Pe.
Geraldo Martins
São Marcos, ao registrar a
convocação que Jesus faz dos doze apóstolos, apresenta três detalhes
interessantes. O primeiro diz respeito ao lugar onde Jesus estava na hora em
que escolheu os doze: numa montanha (Mc 3,13). A montanha é lugar da revelação
de Deus. Remete-nos ao monte Horeb onde Deus se revela a Moisés e o chama para
a missão de libertar seu povo da escravidão no Egito (cf. Ex 3,1). Lembra a
montanha do Sinai onde Moisés recebeu os dez mandamentos da lei de Deus, isto
é, a Aliança que Deus fez com seu povo que caminhava rumo à terra prometida.
Recorda, ainda, o monte Carmelo onde Elias, assistido por Deus, desafiou e
venceu os profetas de Baal (cf. 1Rs
18,20-40). A manifestação da glória de Jesus também se dá numa “alta montanha”,
que alguns identificam como o monte Tabor (cf. Mt 17,1).
O excesso de compromissos, a agenda
lotada e cobrança por resultados imediatos nem sempre nos dão tempo de nos colocar
na presença de Deus. Todos precisamos nos colocar, em algum momento, na
montanha para falar com Deus, ouvir o que Ele tem a nos dizer. É desse encontro
que nasce a experiência de Deus que transforma nossa vida.
O segundo elemento ressalta a
liberdade de Jesus na escolha dos doze. Diz o evangelista que Jesus “chamou os
que Ele queria” (Mc 3,13). É interessante observar que Jesus estava rodeado de
multidões. Muitos já o seguiam (cv. Mc 3,7). Que critérios teria Jesus usado
para chamar os doze? Seriam os mais inteligentes? Os mais generosos? Os mais
dispostos ao trabalho? Os mais disponíveis? Os melhores? Difícil dizer. Que
reações esta escolha terá provocado nos outros seguidores de Jesus? Ciúme?
Inveja? Alegria? Decepção? Terá alguém abandonado Jesus por não ter sido
escolhido para fazer parte do grupo dos doze?
São perguntas que não conseguimos
responder. Uma coisa é certa: pelo batismo todos nos tornamos também apóstolos
de Jesus. Fazemos, portanto, parte de sua Igreja. Fomos por Ele chamados e
temos também nossa missão. Ninguém deve, portanto, se sentir excluído do grupo
de Jesus. Temos consciência disso? Como temos respondido ao chamado que Ele nos
faz?
O terceiro elemento é também muito
interessante. Diz respeito à finalidade do chamado: para que ficassem com Jesus
e para serem enviados a pregar (cf. Mc 3,14). Ficar com Jesus. O que significa
isso? Significa, antes de tudo, render-se à sua sabedoria, à sua santidade, ao
seu amor. Aprender com Ele o caminho da salvação e da santidade. Encher-se de
Deus. Aquele que fica com Jesus pode, como São Paulo, dizer: “Já não sou quem
vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Temos tido tempo de permanecer com
Jesus ou ocupamos nosso tempo com outros “compromissos” que nos impedem de
subir a montanha com Jesus?
Após permanecerem com Jesus, os
apóstolos são enviados a pregar. É a missão de quem faz a experiência de Jesus:
anunciar a vida, a pessoa, a obra de Jesus aos irmãos e irmãs. Aos apóstolos é
dado o poder de expulsar demônios, isto é, ajudar as pessoas a superarem o mal
que as afligem, mostrar-lhes que Deus é maior que seus problemas e nunca as
abandona. E eles cumprem à risca a ordem de Jesus. Hoje, os enviados somos nós.
Temos cumprido essa missão? Temos aliviado a dor e o sofrimento de nossos irmãos
e irmãs?
Senhor Jesus, que pelo batismo nos
chamais a permanecer convosco, dai-nos a graça de escutar vossa palavra.
Enviai-nos em missão a fim de que vos anunciemos aos nossos irmãos e irmãs. Fazei
que construamos comunidades vivas, acolhedoras, missionárias. Assisti-nos
sempre com vosso amor e vossa luz. Amém!
(Meditação - liturgia diária - 23.01.15)
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