sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A escolha dos doze

Pe. Geraldo Martins

São Marcos, ao registrar a convocação que Jesus faz dos doze apóstolos, apresenta três detalhes interessantes. O primeiro diz respeito ao lugar onde Jesus estava na hora em que escolheu os doze: numa montanha (Mc 3,13). A montanha é lugar da revelação de Deus. Remete-nos ao monte Horeb onde Deus se revela a Moisés e o chama para a missão de libertar seu povo da escravidão no Egito (cf. Ex 3,1). Lembra a montanha do Sinai onde Moisés recebeu os dez mandamentos da lei de Deus, isto é, a Aliança que Deus fez com seu povo que caminhava rumo à terra prometida. Recorda, ainda, o monte Carmelo onde Elias, assistido por Deus, desafiou e venceu os profetas de Baal  (cf. 1Rs 18,20-40). A manifestação da glória de Jesus também se dá numa “alta montanha”, que alguns identificam como o monte Tabor (cf. Mt 17,1).

O excesso de compromissos, a agenda lotada e cobrança por resultados imediatos nem sempre nos dão tempo de nos colocar na presença de Deus. Todos precisamos nos colocar, em algum momento, na montanha para falar com Deus, ouvir o que Ele tem a nos dizer. É desse encontro que nasce a experiência de Deus que transforma nossa vida.

O segundo elemento ressalta a liberdade de Jesus na escolha dos doze. Diz o evangelista que Jesus “chamou os que Ele queria” (Mc 3,13). É interessante observar que Jesus estava rodeado de multidões. Muitos já o seguiam (cv. Mc 3,7). Que critérios teria Jesus usado para chamar os doze? Seriam os mais inteligentes? Os mais generosos? Os mais dispostos ao trabalho? Os mais disponíveis? Os melhores? Difícil dizer. Que reações esta escolha terá provocado nos outros seguidores de Jesus? Ciúme? Inveja? Alegria? Decepção? Terá alguém abandonado Jesus por não ter sido escolhido para fazer parte do grupo dos doze?

São perguntas que não conseguimos responder. Uma coisa é certa: pelo batismo todos nos tornamos também apóstolos de Jesus. Fazemos, portanto, parte de sua Igreja. Fomos por Ele chamados e temos também nossa missão. Ninguém deve, portanto, se sentir excluído do grupo de Jesus. Temos consciência disso? Como temos respondido ao chamado que Ele nos faz?

O terceiro elemento é também muito interessante. Diz respeito à finalidade do chamado: para que ficassem com Jesus e para serem enviados a pregar (cf. Mc 3,14). Ficar com Jesus. O que significa isso? Significa, antes de tudo, render-se à sua sabedoria, à sua santidade, ao seu amor. Aprender com Ele o caminho da salvação e da santidade. Encher-se de Deus. Aquele que fica com Jesus pode, como São Paulo, dizer: “Já não sou quem vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Temos tido tempo de permanecer com Jesus ou ocupamos nosso tempo com outros “compromissos” que nos impedem de subir a montanha com Jesus?

Após permanecerem com Jesus, os apóstolos são enviados a pregar. É a missão de quem faz a experiência de Jesus: anunciar a vida, a pessoa, a obra de Jesus aos irmãos e irmãs. Aos apóstolos é dado o poder de expulsar demônios, isto é, ajudar as pessoas a superarem o mal que as afligem, mostrar-lhes que Deus é maior que seus problemas e nunca as abandona. E eles cumprem à risca a ordem de Jesus. Hoje, os enviados somos nós. Temos cumprido essa missão? Temos aliviado a dor e o sofrimento de nossos irmãos e irmãs?

Senhor Jesus, que pelo batismo nos chamais a permanecer convosco, dai-nos a graça de escutar vossa palavra. Enviai-nos em missão a fim de que vos anunciemos aos nossos irmãos e irmãs. Fazei que construamos comunidades vivas, acolhedoras, missionárias. Assisti-nos sempre com vosso amor e vossa luz. Amém!
(Meditação - liturgia diária - 23.01.15)

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