Pe. Geraldo Martins
A comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, a serem
celebrados neste ano, inspirou o tema da Campanha da Fraternidade que estamos
vivendo nesta Quaresma: Igreja e
Sociedade. Somos convidados a refletir sobre a relação da Igreja com a
sociedade num contexto marcado pela pluralidade, pela diferença e por muitas
situações que desafiam tanto a Igreja quanto a sociedade em sua autonomia e
independência.
Há, da parte de alguns cristãos, muita dificuldade de
aceitar a autonomia da sociedade. Julgam que ela deveria se submeter à Igreja
como nos tempos da cristandade. Outros, ao contrário, insistem que não cabe
participação da Igreja na sociedade devido à laicidade que caracteriza o
Estado. Daí a secularização que marca a sociedade atual, entendida como confinamento
da Igreja ou das religiões na esfera estritamente religiosa.
A relação da Igreja com a sociedade deve ser marcada pelo
diálogo que respeita a autonomia de uma e outra. “O modo pelo qual a Igreja
dialoga de maneira contundente com a sociedade em geral é o serviço cooperativo
a favor da verdade, da justiça e da fraternidade em vista do bem comum” (Texto
Base da CF, 60). Por isso, a Igreja se coloca na sociedade como servidora a
exemplo do Cristo, como ensina o lema que anima a Campanha da Fraternidade –
“Eu vim para servir” (Mc 10,45).
A Igreja não seria fiel ao Evangelho se vivesse confinada na
sacristia, ignorando a realidade de dor, sofrimento e injustiça que atinge
milhões de vidas. A mensagem do Evangelho, recorda-nos Puebla, exige dos
cristãos o direito e o dever de participar da sociedade, pois, “não há
realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no coração dos
discípulos de Cristo” (cf. GS, 1).
Ao intervir nas realidades temporais, a Igreja o faz,
especialmente, na perspectiva da defesa dos pobres e excluídos, no desejo de
contribuir para a construção da justiça e da paz. E a Igreja se torna presente
nestas realidades por meio dos cristãos, seus filhos e filhas. Por isso, a
doutrina social da Igreja faz constante apelo aos cristãos para que tenham
participação ativa na comunidade política com vistas à construção do bem comum.
Ainda hoje muitas pessoas insistem em viver sua fé alienada
do mundo. Ignoram o que disse Jesus quando rezava em favor de seus discípulos:
“Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15). Mesmo
afirmando que os discípulos “não são do mundo”, Jesus os envia ao mundo como
também Ele foi enviado ao mundo (Jo 17,16.18).
Que a Campanha da Fraternidade nos ajude em nossa conversão
a fim de testemunharmos a nossa fé no compromisso com a construção de uma sociedade
nova, justa e fraterna, sendo “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 6,13-16).
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