Obra começou em janeiro de 2009, foi concluída em outubro passado e custou mais de R$ 800 mil.

A pequena e aconchegante cidade de Abre Campo, distante 220 km da capital mineira, está em festa. Serão inauguradas nesta sexta-feira, 17, a reforma e a ampliação do prédio da Escola Estadual Abre Campo, uma obra que custou pouco mais de R$ 800 mil, além de muita luta e suor por parte de seus diretores e responsáveis. Foi uma vitória da perseverança. Uma missa rezada pelo pároco da cidade na igreja de Sant’Ana, próximo à escola, antecipou o início das festividades de inauguração da obra. A celebração foi também em ação de graças pelos formandos do ano.
Criada 1955, a escola nasce com o nome de “Ginásio Abre Campo”, filiada à Campanha Nacional de Estudos Gratuitos (CENEG). Em 1967, passa a se chamar “Colégio Comercial Abre Campo” e, antes de se tornar estadual, em 1996, se torna Escola da Comunidade Abre Campo. A luta das últimas diretoras pela estadualização da escola, compra do prédio e sua necessária ampliação e reforma é contada aqui pela atual diretora, Vanda Martins Dias de Paiva, que há dez anos dirige o estabelecimento de ensino.
“Dentre tantos desafios que tivemos, o maior talvez tenha sido o de manter o mesmo padrão de ensino. Sentimos que nossos alunos produziram menos neste período. Outro grande desafio foi a ansiedade vivida: “será que vamos conseguir vencer?” Mas valeu a pena. Sinto que a população da cidade (os que aqui estão e que se foram e voltam só para visitá-la) está muito satisfeita”, conta, satisfeita, a diretora.
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A diretora não se esquece do apoio que recebeu da comunidade escolar e da população da cidade. “O pároco local cedeu salas do Centro Pastoral Paroquial, que se tornaram salas de aula, nos três turnos, durante oito meses. Os funcionários sacrificaram-se intensamente, pois muita coisa precisou ser improvisada. As aulas de Educação Física, por exemplo, eram ministradas na pracinha da Igreja e sempre tínhamos visitantes para bater peteca ou jogar bola, como que solidários e amigos da gente”, relembra.
Atualmente a escola tem 1079 alunos matriculados e emprega 84 funcionários (16 auxiliares de serviço gerais; três professores para o ensino do uso da biblioteca; um supervisor pedagógico; dois orientadores educacionais; uma secretária; uma contadora; seis auxiliares de secretaria; 52 professores; dois vice-diretores e uma diretora).
Leia, abaixo, a entrevista com a diretora contando a história da escola e da reforma que será inaugurada nesta sexta-feira, 17.
1. Vanda, conte, brevemente a história da Escola Estadual Abre Campo.

Vanda: Em 1955 as autoridades da cidade perceberam que os municípios vizinhos (Matipó e Rio Casca, por exemplo) já possuíam escolas que ministravam aulas além do 4º ano. Com o prefeito da época, começaram a se articular para criar o colégio também aqui. Assim, no dia 1º de maio de 1955, no Salão Nobre da Prefeitura Municipal, foi fundado o educandário filiado à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CENEG), constituindo-se uma diretora provisória. Três meses depois, no dia 8 de agosto, inaugurou-se o Ginásio de Abre Campo, que passou a funcionar provisoriamente no Grupo Escolar “Dom João Bosco”, tendo como primeiro presidente Dr. Pascoal Grossi. Em 1967, passa a se chamar Colégio Comercial de Abre Campo.
2. E qual a história do atual prédio?
Vanda: O juiz de direito da comarca, Dr. Diógenes Araújo Netto, que ainda vive, foi um dos esteios neste empreendimento de fundar em Abre Campo um estabelecimento de 1º e 2º graus, mantido pela CENEG. Depois que a escola começou a funcionar no Grupo Dom Bosco, ele visitou Divino de Carangola e de lá veio a arquitetura modelo para construção do prédio. Era um padrão comum a todas as escolas da Comunidade àquela época. A escola se estruturou com força e seu prédio começou a ser construído em 1961. O Ginásio mudou para o atual endereço em 1963. Quatro anos depois, em 1967, a Prefeitura faz a doação do prédio e do terreno à CENEG.
3. Quais foram os primeiros cursos e como era a sustentação do colégio?
Vanda: No dia 3 de março de 1963, teve início o Curso Normal, com o título de Curso para Formação de Professores e, no dia 11 de setembro de 1966, foi fundado o Curso Técnico em Contabilidade. A escola sempre foi dinâmica e passou a ser Escola da Comunidade Abre Campo. Os alunos que não podiam pagar ganhavam bolsas ora da prefeitura, ora de deputados, ora da própria CNEC. Já nos anos 90, percebendo a necessidade de ampliar as oportunidades, a Escola foi estadualizada pelo então prefeito Dr. Davis Antonio Cardoso, em agosto de 1996, e os alunos não mais precisavam pagar por seus estudos. A escola teve sua regularização legal para funcionamento como Escola Estadual “Abre Campo” em 14/10/97.
4. Que mudanças isso trouxe?
Vanda: Houve muita mudança: vagas ampliadas, professores concursados (não mais indicados), maior aproximação de pais e comunidade na escola. Em 1999 tivemos os últimos cursos profissionalizantes.
5. E como ficou a questão do prédio, que não era do Estado, e precisava de reformas?
Vanda: Apesar das muitas conquistas (ampliação de vagas, mais oportunidades de empregos, maior autonomia e aquisição de recursos financeiros), o prédio continuou pertencendo à CNEC. Além disso, estava em péssimo estado. Era cobrado um aluguel exorbitante. Então a primeira diretora da E. E. “Abre Campo”, Madalena Gomes Dias, começou a luta pela aquisição e reforma do prédio, mas a CNEC não mostrava interesse em vendê-lo. Assim a diretora fez pequenos reparos com ajuda da comunidade e da Prefeitura.
6. Sua primeira gestão começou nesse período, em 12 de dezembro de 2000. Que iniciativas tomou em relação a isso?
Vanda: Iniciei também a luta para aquisição do prédio. Foram muitas idas e vindas a Belo Horizonte, à CNEC, à Secretaria Estadual de Educação (SEE/MG) e à Assembléia Legislativa.
7. Você recebeu algum apoio? Que dificuldades enfrentou?
Vanda: Sim, fui apoiada por prefeitos, vereadores e, especialmente, pela Superintendente de Ponte Nova, Ana Maria Gomes, nossa conterrânea. Havia muita burocracia, impasse, indiferença por parte daqueles de quem dependíamos. Quando se abriu a possibilidade de negociação tudo mudou e o Estado manifestou possibilidade de adquirir o imóvel. Depois de longo processo, o prédio foi adquirido, em junho de 2007, por R$ 333.391,67.
8. A partir daí começou a luta por sua reforma e ampliação...
Vanda: Exatamente. Em outubro de 2008, após aprovação da planilha enviada à SEE, recebemos R$ 542.635,99 para reforma e ampliação. Em fevereiro deste ano, recebemos mais R$ 263.670,07 para refazer a rede elétrica e trocar o telhado.
9. Em que consistiu a obra?

Vanda: Ampliamos o prédio com a construção do laboratório de ciências, refeitório, área de serviço e uma quadra poliesportiva coberta. Além disso, melhoramos todos os outros espaços e adaptamos nossos banheiros e outros espaços para o portador de necessidades especiais.
10. Isso dá mais de R$ 800 mil. E o processo da obra, como foi?
Vanda: Neste período foram muitos desafios, mas pudemos contar com o apoio de todos. O pároco local cedeu salas do Centro Pastoral Paroquial, que se tornaram salas de aula, nos três turnos, durante oito meses. Os funcionários sacrificaram-se intensamente, pois muita coisa precisou ser improvisada. As aulas de Educação Física, por exemplo, eram ministradas na pracinha da Igreja e sempre tínhamos visitantes para bater peteca ou jogar bola, como que solidários e amigos da gente. Todos que passavam pela rua percebiam as nossas dificuldades e sempre se manifestavam sua palavra de apoio e entravam para uma eventual visitinha.
11. Houve algum acidente neste período?
Vanda: Não. A equipe dos pedreiros foi sempre muito zelosa, cautelosa, precavida e organizada para evitar que ocorresse algum acidente acorresse.
12. Foi fácil tocar uma obra dessas por tanto tempo sem parar a rotina de aulas, trabalho etc?
Vanda: Dentre tantos desafios que tivemos, o maior talvez tenha sido o de manter o mesmo padrão de ensino. Sentimos que nossos alunos produziram menos neste período. Outro grande desafio foi a ansiedade vivida: “será que vamos conseguir vencer?” Mas valeu a pena. Sinto que a população da cidade (os que aqui estão e que se foram e voltam só para visitá-la) está muito satisfeita. Posso considerar que a obra foi sim, nos últimos tempos, nosso maior desafio, porque, paralelo a ela, muita coisa vem acontecendo, muita mudança, muitas propostas da Secretaria de Educação e, verdadeiramente, a cada dia vencido, ficou a sensação e a certeza de que aprendemos um pouco mais.
13. Você e sua equipe, ao enfrentar tudo isso, dão uma demonstração de que acreditam na educação. Como você vê a educação hoje?
Vanda: Num âmbito geral, estamos avançando, mas ainda falta muito. Percebo que estamos precisando de profissionais mais qualificados para lidar com o jovem do século XXI e também que ainda há muito tradicionalismo por parte de alguns. Sinto que os baixos salários desestimulam boa parte de nós, profissionais, e que precisamos dedicar a cada dia ao aprofundamento de estudos capacitando-nos ainda mais.
Outro fator que dificulta a educação é a famílias em crise e os pais que acreditam pouco no próprio filho ou mesmo na escola. Apesar de tudo, considero que “gente precisa de gente” e que somos chamados para ensinar e, através do ensino, transformar vidas.
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