Pe. Geraldo Martins
martinsdias1988@gmail.com
No ano de seu cinquentenário, a Campanha da Fraternidade
traz um tema complexo e desafiador: tráfico humano. Para a grande maioria da
população brasileira será uma chocante surpresa constatar a existência desse
crime em nosso país. E numa proporção jamais imaginada.
A ONU descreve o crime de tráfico humano como “o recrutamento,
o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas,
recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à
fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à
entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de
uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração”.
São quatro as principais modalidades de tráfico humano: para
exploração no trabalho, para tráfico de órgãos, para exploração sexual e
tráfico de crianças. Trata-se de um crime organizado que rende uma fortuna aos
que o praticam. Com mais de 241 rotas nacionais e internacionais, esse crime
tem a invisibilidade como sua maior aliada. Suas vítimas nem sempre o denunciam
seja por falta de consciência da exploração a que são submetidas, seja por
vergonha ou medo de represálias dos que as exploram.
Alguns números nos ajudam a entender melhor do que estamos
falando. Segundo a ONU, o tráfico humano rende cerca de U$ 32 bilhões por ano. A
Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou, em 2012, que as vítimas do
trabalho escravo e da exploração sexual no mundo somaram 21 milhões de pessoas.
Desse total, mais da metade (55%) é de mulheres e jovens. No Brasil, de acordo
com a Comissão Pastoral da Terra, entre 2003 e 2012, foram registrados 62.802
casos de pessoas em situação de trabalho escravo. Não é fácil precisar, no
entanto, o número dos que são vítimas para o tráfico de órgãos.
Tomar consciência da prática desse crime e denunciá-lo é o grande
objetivo da Campanha da Fraternidade, juntamente com a mobilização da sociedade
brasileira para a erradicação desse mal que envergonha o país. Governos,
justiça, legisladores, igrejas, sociedade civil, todos temos o dever de nos
empenhar ao máximo na busca de caminhos que ponham fim a essa chaga que tem
vitimado milhares de nossos irmãos e irmãs.
Lembra o texto base da CF que “a exploração, compra e venda
das pessoas não é apenas mais um dano colateral do sistema econômico atual. Seus
mecanismos perversos escondem verdadeiras formas de idolatria: dinheiro,
ideologia e tecnologia” (n. 160). O tráfico humano é um pecado “concretizado em
mentira, exploração e assassinato, opressão da verdade pela injustiça e pela
soberba diante de Deus” (n. 159).
O tráfico humano fere a dignidade das pessoas, criadas à
imagem e semelhança de Deus. Rouba-lhes a liberdade e põe fim ao seu sonho de
uma vida feliz. Deus não nos criou para a exploração e a escravidão. “É para a
liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
Que a Quaresma nos ajude em nossa conversão e nos faça
comprometidos na luta pelo fim do tráfico humano, chaga social que nos
envergonha.
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