sábado, 1 de fevereiro de 2014

A missão que nos desafia

Pe. Geraldo Martins

A diminuição do número de católicos, nos últimos anos, tem sido uma grande preocupação da Igreja. Na América Latina, o alerta veio da V Conferência do episcopado latino-americano e caribenho, realizada em 2007, em Aparecida. Aí os bispos constataram que o percentual da Igreja não cresce no mesmo ritmo que o da população e que “significativo número de católicos estão abandonando a Igreja para entrar em outros grupos religiosos” (n. 100a,f).

Segundo Aparecida, os católicos que deixam a Igreja não o fazem “pelo que os grupos ‘não católicos’ creem, mas fundamentalmente por causa de como eles vivem; não por razões doutrinais, mas vivenciais; não por motivos estritamente dogmáticos, mas pastorais; não por problemas teológicos, mas metodológicos de nossa Igreja” (n. 225). Isso dá o que pensar.

Bento XVI, mais de uma vez, mostrou sua apreensão com o Brasil em relação a esse fenômeno. Em sua visita ao país, em 2007, falando aos bispos na Catedral da Sé em São Paulo, apontou a falta de evangelização como a causa principal do êxodo dos católicos. Três anos depois, ao receber os bispos da Bahia e Sergipe, em visita ad limina, voltou ao tema e atribuiu à influência de “novos elementos na sociedade” a causa de um “consistente abandono de muitos católicos da vida eclesial ou mesmo da Igreja”.

Não é apenas a perda de católicos para outros grupos religiosos que desafia a Igreja. O grande número dos que foram batizados e se afastaram da vida eclesial também questiona sua ação evangelizadora. Ir ao seu encontro e levá-los a se reencantarem por Jesus Cristo é meta da Igreja, confirmada pela Conferência de Aparecida.

A arquidiocese de Mariana, fazendo coro a essas preocupações, aprovou em 2010 seu Projeto Arquidiocesano de Evangelização (PAE) que propõe atividades pastorais a partir de dois eixos: comunidade e missão. Em relação a essa última, tem prioridade o anúncio junto aos afastados.

A última assembleia arquidiocesana de pastoral, realizada em novembro do ano passado, constatou que esta tarefa é o nosso ponto fraco. Pouco ou quase nada se conseguiu na missão junto aos afastados desde a aprovação do Projeto. Isso explica que a assembleia tenha definido esse exigente compromisso como prioridade pastoral para toda a arquidiocese nos próximos dois anos.

Não tem sido fácil encontrar um caminho que ajude a concretizar essa proposta. Ir aos afastados é mais complexo do que parece. Sempre que se senta para discutir a melhor forma de fazê-lo, aparecem mais perguntas que respostas: Quem são os afastados? Onde estão? Por que se afastaram? Como chegar a eles? O que dizer-lhes? Que proposta fazer-lhes? Como ir a eles sem o risco do proselitismo? Quem deve ir ao seu encontro? O que significa trazê-los de volta? Nossas comunidades estão preparadas para eventual acolhida aos afastados?

O caminho proposto por Bento XVI, no discurso acima lembrado, passa por uma pastoral da acolhida que ajude os afastados a sentirem a Igreja “como lugar privilegiado do encontro com Deus” e por um “itinerário catequético permanente”. Aponta, além disso, o diálogo que deve atingir a todos “em espírito de compreensão e delicada caridade”. Insiste ainda na especial atenção aos pobres que são “os destinatários privilegiados do Evangelho”.

O papa Francisco insiste em que sejamos uma “Igreja em saída” e de “portas abertas”. Quem sai em missão e vai ao encontro dos afastados devem ter presentes as palavras de Francisco na sua primeira exortação apostólica: “Todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer” (n. 47) e ainda: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!” (n. 49).

A missão, especialmente junto aos afastados, exige conversão tanto pessoal quanto pastoral. A esse respeito, aliás, o documento de Aparecida ousa ao afirmar a necessidade de se passar de uma pastoral de mera conservação a uma “pastoral decididamente missionária” (370) e ao insistir que a missão deve “impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais”. Ousa mais ainda quando diz que “nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (n. 365).


Estamos todos dispostos a isso?

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