Pe. Geraldo Martins
A diminuição do número de católicos, nos últimos anos, tem
sido uma grande preocupação da Igreja. Na América Latina, o alerta veio da V
Conferência do episcopado latino-americano e caribenho, realizada em 2007, em
Aparecida. Aí os bispos constataram que o percentual da Igreja não cresce no
mesmo ritmo que o da população e que “significativo número de católicos estão
abandonando a Igreja para entrar em outros grupos religiosos” (n. 100a,f).
Segundo Aparecida, os católicos que deixam a Igreja não o
fazem “pelo que os grupos ‘não católicos’ creem, mas fundamentalmente por causa
de como eles vivem; não por razões doutrinais, mas vivenciais; não por motivos
estritamente dogmáticos, mas pastorais; não por problemas teológicos, mas
metodológicos de nossa Igreja” (n. 225). Isso dá o que pensar.
Bento XVI, mais de uma vez, mostrou sua apreensão com o Brasil
em relação a esse fenômeno. Em sua visita ao país, em 2007, falando aos bispos
na Catedral da Sé em São Paulo, apontou a falta de evangelização como a causa
principal do êxodo dos católicos. Três anos depois, ao receber os bispos da
Bahia e Sergipe, em visita ad limina, voltou ao tema e atribuiu à influência de
“novos elementos na sociedade” a causa de um “consistente abandono de muitos católicos da vida eclesial ou mesmo da
Igreja”.
Não é
apenas a perda de católicos para outros grupos religiosos que desafia a Igreja.
O grande número dos que foram batizados e se afastaram da vida eclesial também
questiona sua ação evangelizadora. Ir ao seu encontro e levá-los a se
reencantarem por Jesus Cristo é meta da Igreja, confirmada pela Conferência de
Aparecida.
A
arquidiocese de Mariana, fazendo coro a essas preocupações, aprovou em 2010 seu
Projeto Arquidiocesano de Evangelização (PAE) que propõe atividades pastorais a
partir de dois eixos: comunidade e missão. Em relação a essa última, tem
prioridade o anúncio junto aos afastados.
A última
assembleia arquidiocesana de pastoral, realizada em novembro do ano passado,
constatou que esta tarefa é o nosso ponto fraco. Pouco ou quase nada se
conseguiu na missão junto aos afastados desde a aprovação do Projeto. Isso explica
que a assembleia tenha definido esse exigente compromisso como prioridade
pastoral para toda a arquidiocese nos próximos dois anos.
Não tem
sido fácil encontrar um caminho que ajude a concretizar essa proposta. Ir aos
afastados é mais complexo do que parece. Sempre que se senta para discutir a
melhor forma de fazê-lo, aparecem mais perguntas que respostas: Quem são os
afastados? Onde estão? Por que se afastaram? Como chegar a eles? O que
dizer-lhes? Que proposta fazer-lhes? Como ir a eles sem o risco do
proselitismo? Quem deve ir ao seu encontro? O que significa trazê-los de volta?
Nossas comunidades estão preparadas para eventual acolhida aos afastados?
O caminho
proposto por Bento XVI, no discurso acima lembrado, passa por uma pastoral da
acolhida que ajude os afastados a sentirem a Igreja “como lugar privilegiado do
encontro com Deus” e por um “itinerário catequético permanente”. Aponta, além
disso, o diálogo que deve atingir a todos “em espírito de compreensão e
delicada caridade”. Insiste ainda na especial atenção aos pobres que são “os
destinatários privilegiados do Evangelho”.
O papa Francisco insiste em que sejamos uma “Igreja em
saída” e de “portas abertas”. Quem sai em missão e vai ao encontro dos afastados
devem ter presentes as palavras de Francisco na sua primeira exortação
apostólica: “Todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos
podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se
deveriam fechar por uma razão qualquer” (n. 47) e ainda: “Saiamos, saiamos para
oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!” (n. 49).
A missão,
especialmente junto aos afastados, exige conversão tanto pessoal quanto
pastoral. A esse respeito, aliás, o documento de Aparecida ousa ao afirmar a
necessidade de se passar de uma pastoral de mera conservação a uma
“pastoral decididamente missionária” (370) e ao insistir que a missão deve
“impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais”. Ousa
mais ainda quando diz que “nenhuma comunidade deve se isentar de entrar
decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação
missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a
transmissão da fé” (n. 365).
Estamos todos dispostos a isso?
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