sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sínodo, família e evangelização


Pe. Geraldo Martins Dias

O papa Francisco convocou para outubro deste ano a 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos a fim de discutir os desafios pastorais em relação à família. Essa Assembleia prepara o Sínodo ordinário de 2015. Visa avaliar a atual situação da família no contexto de evangelização, cabendo à Assembleia do próximo ano “procurar linhas de ação para a pastoral da pessoa humana e da família”.

Perguntar-se sobre o que é o Sínodo ajuda a ter uma ideia do que pode vir por aí em relação ao tema família e evangelização. A história mais recente dos Sínodos começa com o Concílio Vaticano II que, no Decreto Christus Dominus, o solicitou como forma de colaboração dos bispos com o papa no governo da Igreja. O Sínodo, segundo o Vaticano II, “agindo em nome de todo o Episcopado católico, mostra ao mesmo tempo que todos os Bispos, em comunhão hierárquica, participam da solicitude por toda a Igreja” (CD, 5).

O papa Paulo VI, ainda no calor do Concílio, em setembro de 1965, instituiu o Sínodo, como meio de “propiciar mais autêntica e eficiente participação em nosso zelo pela Igreja universal”. De acordo com Paulo VI, o Sínodo nasce da convicção que o Concílio tem da importância e da necessidade da cooperação dos bispos com o papa para o bem da Igreja. Ele ocorre a cada três anos.

O Código de Direito Canônico de 1983 estabelece as normas para o Sínodo nos cânones 342 a 348. Define-o como uma Assembleia de bispos, escolhidos nas diversas regiões do mundo, mas sem poder deliberativo. É, portanto, um órgão consultivo. Essa é uma de suas fraquezas que, possivelmente, foge das intenções do Concílio. As contribuições dos bispos são entregues ao papa que, posteriormente, publica uma Exortação Apostólica. Trata-se, evidentemente, de um documento importante que aponta caminhos para a evangelização e se torna referência para toda a Igreja. O peso, no entanto, seria outro se saísse como documento do Sínodo que, então, seria uma espécie de miniconcílio.

Em relação ao próximo Sínodo, a novidade é que será precedido por uma Assembleia Extraordinária. O mais interessante, no entanto, é que o papa Francisco está ampliando a participação da Igreja. Um longo questionário foi enviado às dioceses a fim de que envolvam o máximo de pessoas e grupos na discussão do tema. E não poderia ser diferente, afinal, o tema família toca a todos.

O questionário tenta ser o mais abrangente possível incluindo questões delicadas e, muitas vezes, espinhosas. Assim, parte da indagação sobre o conhecimento que os católicos têm dos documentos da Igreja em relação à família e chega até à complexa questão da união de pessoas do mesmo sexo, passando, antes, pela situação dos divorciados, recasados, controle de natalidade e tudo o que isso implica.

A Arquidiocese de Mariana não se omitiu. Enviado aos padres, ao Conselho Arquidiocesano de Pastoral, aos diáconos, aos seminaristas estudantes de teologia e às coordenações da Pastoral Familiar e da Dimensão Missionária, o documento de trabalho do Sínodo foi estudado e debatido por muita gente. À coordenação arquidiocesana de pastoral chegaram doze relatórios com as respostas ao questionário proposto pelo documento. Uma síntese foi feita e enviada à CNBB que recolhe a contribuição das demais dioceses para elaborar um único texto a ser enviado à Secretaria do Sínodo.

Uma breve leitura das contribuições da Arquidiocese de Mariana revela a coincidência das respostas. Mostra, por exemplo, que documentos como a Humanae Vitae e Familiaris Consortio são totalmente desconhecidos da maioria dos católicos. Os relatórios defendem que, em relação a casos complexos como união de pessoas de mesmo sexo, sacramentos para crianças de “famílias irregulares”, uniões sem o sacramento, o caminho é o da acolhida e abertura, jamais o do julgamento e exclusão.

As respostas apontam ainda muita angústia por parte dos que são impedidos de receber o sacramento, especialmente eucaristia e confissão, por causa de sua situação familiar. Reconhecem que, embora haja trabalho pastoral com as famílias nessa situação, a Igreja está longe dessas pessoas e não consegue chegar até elas. Admitem que não é fácil falar-lhes da misericórdia de Deus quando o que prevalece é a norma, a lei.

Não se vê nos relatórios nenhum estímulo à desobediência às orientações da Igreja, mas um enorme desejo de que muitas delas sejam revistas e adequadas aos novos tempos.

Ao propor que o Sínodo discuta a evangelização das famílias de modo a responder os desafios pastorais que as envolvem, o papa Francisco cria a expectativa de que alguma coisa pode mudar. Mais de uma vez ele disse que precisamos abrir portas e cultivar a cultura do encontro. “A Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas”, escreve em sua Exortação Evangelii Gaudium.

É dele esta esperançosa palavra: “Há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer” (EG, 47).

Que o Sínodo ajude a Igreja a abrir suas portas para todas as famílias!

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