Pe. Geraldo Martins Dias
O papa Francisco convocou para outubro deste ano a 3ª
Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos a fim de discutir os desafios
pastorais em relação à família. Essa Assembleia prepara o Sínodo ordinário de
2015. Visa avaliar a atual situação da família no contexto de evangelização,
cabendo à Assembleia do próximo ano “procurar linhas de ação para a pastoral da
pessoa humana e da família”.
Perguntar-se sobre o que é o Sínodo ajuda a ter uma ideia do
que pode vir por aí em relação ao tema família e evangelização. A história mais
recente dos Sínodos começa com o Concílio Vaticano II que, no Decreto Christus Dominus, o solicitou como forma
de colaboração dos bispos com o papa no governo da Igreja. O Sínodo, segundo o
Vaticano II, “agindo em nome de todo o Episcopado católico, mostra ao mesmo
tempo que todos os Bispos, em comunhão hierárquica, participam da solicitude
por toda a Igreja” (CD, 5).
O papa Paulo VI, ainda no calor do Concílio, em setembro de
1965, instituiu o Sínodo, como meio de “propiciar mais autêntica e eficiente
participação em nosso zelo pela Igreja universal”. De acordo com Paulo VI, o
Sínodo nasce da convicção que o Concílio tem da importância e da necessidade da
cooperação dos bispos com o papa para o bem da Igreja. Ele ocorre a cada três anos.
O Código de Direito Canônico de 1983 estabelece as normas
para o Sínodo nos cânones 342 a 348. Define-o como uma Assembleia de bispos,
escolhidos nas diversas regiões do mundo, mas sem poder deliberativo. É,
portanto, um órgão consultivo. Essa é uma de suas fraquezas que, possivelmente,
foge das intenções do Concílio. As contribuições dos bispos são entregues ao
papa que, posteriormente, publica uma Exortação Apostólica. Trata-se,
evidentemente, de um documento importante que aponta caminhos para a evangelização
e se torna referência para toda a Igreja. O peso, no entanto, seria outro se
saísse como documento do Sínodo que, então, seria uma espécie de miniconcílio.
Em relação ao próximo Sínodo, a novidade é que será
precedido por uma Assembleia Extraordinária. O mais interessante, no entanto, é
que o papa Francisco está ampliando a participação da Igreja. Um longo
questionário foi enviado às dioceses a fim de que envolvam o máximo de pessoas
e grupos na discussão do tema. E não poderia ser diferente, afinal, o tema
família toca a todos.
O questionário tenta ser o mais abrangente possível
incluindo questões delicadas e, muitas vezes, espinhosas. Assim, parte da
indagação sobre o conhecimento que os católicos têm dos documentos da Igreja em
relação à família e chega até à complexa questão da união de pessoas do mesmo
sexo, passando, antes, pela situação dos divorciados, recasados, controle de
natalidade e tudo o que isso implica.
A Arquidiocese de Mariana não se omitiu. Enviado aos padres,
ao Conselho Arquidiocesano de Pastoral, aos diáconos, aos seminaristas
estudantes de teologia e às coordenações da Pastoral Familiar e da Dimensão
Missionária, o documento de trabalho do Sínodo foi estudado e debatido por
muita gente. À coordenação arquidiocesana de pastoral chegaram doze relatórios
com as respostas ao questionário proposto pelo documento. Uma síntese foi feita
e enviada à CNBB que recolhe a contribuição das demais dioceses para elaborar
um único texto a ser enviado à Secretaria do Sínodo.
Uma breve leitura das contribuições da Arquidiocese de
Mariana revela a coincidência das respostas. Mostra, por exemplo, que
documentos como a Humanae Vitae e Familiaris Consortio são totalmente
desconhecidos da maioria dos católicos. Os relatórios defendem que, em relação
a casos complexos como união de pessoas de mesmo sexo, sacramentos para
crianças de “famílias irregulares”, uniões sem o sacramento, o caminho é o da
acolhida e abertura, jamais o do julgamento e exclusão.
As respostas apontam ainda muita angústia por parte dos que são
impedidos de receber o sacramento, especialmente eucaristia e confissão, por
causa de sua situação familiar. Reconhecem que, embora haja trabalho pastoral
com as famílias nessa situação, a Igreja está longe dessas pessoas e não
consegue chegar até elas. Admitem que não é fácil falar-lhes da misericórdia de
Deus quando o que prevalece é a norma, a lei.
Não se vê nos relatórios nenhum estímulo à desobediência às
orientações da Igreja, mas um enorme desejo de que muitas delas sejam revistas
e adequadas aos novos tempos.
Ao propor que o Sínodo discuta a evangelização das famílias
de modo a responder os desafios pastorais que as envolvem, o papa Francisco
cria a expectativa de que alguma coisa pode mudar. Mais de uma vez ele disse
que precisamos abrir portas e cultivar a cultura do encontro. “A Igreja em
saída é uma Igreja com as portas abertas”, escreve em sua Exortação Evangelii Gaudium.
É dele esta esperançosa palavra: “Há outras portas que também
não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial,
todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos
se deveriam fechar por uma razão qualquer” (EG, 47).
Que o Sínodo ajude a Igreja a abrir suas portas para todas
as famílias!
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