sábado, 4 de janeiro de 2014

Voltar por outro caminho

Pe. Geraldo Martins

O encontro pessoal com Jesus Cristo é condição fundamental para que alguém se torne discípulo de Jesus Cristo. Bento XVI falou repetidas vezes sobre isso e o deixou explícito em sua primeira encíclica, Deus caritas est: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, uma Pessoa, que dá novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”.

O tempo do Natal nos recorda, antes de tudo, que, na encarnação de Jesus Cristo, Deus vem ao nosso encontro para se deixar encontrar. João Paulo II já o havia dito em 1998: “Podemos encontrar Deus, porque Ele veio ao nosso encontro”. Encontrar Jesus Cristo deve ser, portanto, a meta de todos que desejam encontrar a si próprios e o sentido de sua vida.

A festa da Epifania nos permite celebrar exatamente este mistério de Deus que vem ao encontro de seus filhos e filhas para ser por eles encontrados. Três aspectos chamam atenção nesse mistério. Primeiro, o sinal de que Deus se serve para mostrar-se presente no mundo; segundo, os destinatários desse sinal; por último, a atitude de quem encontra Deus.

O sinal que revela aos Magos a chegada de Jesus é uma estrela. “Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). Esse sinal remete-nos ao profeta Isaias que anuncia a chegada da Luz que brilha sobre Jerusalém. Jesus é essa luz que dissolve todas as trevas que envolvem a terra e sob cujo clarão caminham povos e reis (Is 60,2-3).

O primeiro passo, portanto, para irmos ao encontro de Jesus é ver o sinal que nos comunica sua presença entre nós. Quem se preocupa demais consigo mesmo, com seus afazeres e se embrenha pelo caminho do ativismo, sem tempo para o recolhimento e o silêncio, corre sério risco de não perceber os sinais de Deus que indicam o caminho para o encontro com Jesus Cristo. 

O segundo aspecto ressaltado pela festa da Epifania diz respeito ao destinatário do sinal que leva a Jesus. É muito significativo que sejam os Magos a quem a tradição popular chama de “Reis”. Trata-se, na verdade, de sábios, muito comuns no tempo de Jesus. Alguns dizem até que se tratava de astrólogos ou astrônomos. O mais significativo, porém, é o fato de serem pagãos. O que significa isso? Que a salvação trazida por Jesus é universal e atinge a todos. 

Todos são chamados a ir ao encontro de Jesus e fazer sua experiência de fé. Deus não exclui ninguém de ir ao seu encontro e a todos oferece seu dom maior: seu Filho Jesus. São Paulo nos ajuda a compreender esse mistério: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do evangelho” (Ef 3,6). 
A resposta, no entanto, depende de cada um e exige a disposição para se colocar a caminho. 
Deixar seus afazeres, seguir a estrela, enfrentar os riscos do caminho em busca do desconhecido. É uma aposta de fé! Estamos dispostos a isso? Deixar as aparentes seguranças que o mundo nos oferece e jogar todas as nossas fichas num mistério que se revela numa criança pobre e da periferia?

A Epifania nos faz pensar ainda na atitude dos que, seguindo a Estrela, se colocaram a caminho e encontraram Jesus. Ninguém conclui sua caminhada se não for movido pela fé e pela esperança, que não decepciona (Rm 5,5). Encontrar Jesus é o prêmio dos seguem o sinal que o indica presente no mundo. Quais são, hoje, os sinais que nos conduzem a Jesus?

Ao encontrar Jesus, os Magos têm três gestos, sinal de seu reconhecimento de quem é Jesus: ajoelham-se e o adoram; oferecem presentes, que simbolizam a realeza (ouro), a divindade (incenso) e a paixão (mirra) Jesus; e, finalmente, retornam à sua terra por outro caminho. 
Vejo esse último gesto como o mais significativo e que revela a verdadeira atitude de quem encontra Jesus Cristo. Adorá-lo e oferecer-lhe presentes são gestos que perdem todo o sentido se os que o fazem não voltam por outro caminho. Isso significa o início de uma nova vida e o reconhecimento de que Deus nos basta. 

É impossível alguém encontrar Jesus e continuar o mesmo. Talvez por isso muitos ainda não tenham tido a coragem de seguir a Estrela em direção a Jesus. Não têm dificuldade em ajoelhar, adorar e oferecer presentes a Jesus. Falta-lhes, contudo, a disposição de voltar por outro caminho. 

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