quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O papa e a juventude

Pe. Geraldo Martins

“Esta es la juventud del papa!”. Este foi um dos gritos que ecoaram como um mantra pelas ruas de Madri durante os quatro dias de encontro do papa Bento XVI com os quase dois milhões de jovens do mundo inteiro por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. A este grito se somou outro - “Benedicto! Benedicto!” – cantado em uníssono pelos jovens. Bastava um grupo entoar qualquer uma destas “palavras de ordem” para ser imediatamente seguido por outro e mais outro até se tornar uma unanimidade. Era de emocionar até mesmo os incrédulos.

O papa Bento XVI foi, sem dúvida, o centro da Jornada. No auge de seus 84 anos, cumpriu uma pesada agenda em Madri. Além dos quatro grandes encontros com a juventude na Praça Cibeles (acolhida - dia 18 e via-sacra - dia 19) e no Aeródromo Cuatro Vientos (vigília - dia 20 e missa – dia 21), o papa teve encontros diplomáticos, reuniu-se com religiosas, com jovens professores universitários e com os voluntários da JMJ; rezou missa para os seminaristas, atendeu confissões, encontrou-se com as pessoas com deficiência.

Em cada encontro, um discurso e a mesma mensagem: a necessidade que a pessoa humana tem de Deus em contraposição aos que defendem uma vida ou uma sociedade sem Deus; a busca e o encontro com a verdade; o encontro pessoal com Jesus Cristo e o testemunho da fé. Em todas suas mensagens sobressaía, de forma clara, o tema da Jornada: “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé”.

Uma tentativa de síntese deste seu pensamento talvez se expresse na palavra dirigida aos jovens durante a vigília: “Precisamente agora, quando a cultura relativista dominante renuncia e menospreza a busca da verdade, que é a aspiração mais alta do espírito humano, devemos propor, com coragem e humildade, o valor universal de Cristo como Salvador de todos os homens e fonte de esperança para a nossa vida”.

Até que ponto e em que profundidade as palavras do papa terão ressonância no coração e na vida dos jovens não podemos avaliar. Quem, porém, esteve em Madri pode testemunhar uma juventude alegre, entusiasmada e muito atenta à voz do papa. A JMJ ofereceu uma variada e rica programação, mas nada superou os encontros públicos com o papa, ponto máximo da Jornada.

Outra atividade que chamou a atenção nos três primeiros dias da Jornada foram as ‘catequeses’. Espalhados pelas várias paróquias da cidade, grupos de 300 a 400 jovens tiveram encontro com bispos, que lhes falaram a partir do tema da JMJ e com eles rezaram a missa. Reputo como sendo esse um dos momentos mais significativos da jornada. Por quê? Porque aí o encontro pôde ser mais personalizado e dialogal; a troca de experiência pode se efetivar de forma mais concreta; o tema da jornada pode ser aprofundado. Engana-se quem pensa que os jovens trocam as catequeses pelo entretenimento ou outra atividade descolada da JMJ.

Há, ainda, outro momento que, especialmente para o país que acolhe a Jornada, pode justificar melhor a realização de um evento tão grandioso e marcado pela festa. Trata-se da pré-jornada, realizada em todas as dioceses do país sede, com o auxílio de jovens do mundo inteiro. Seu objetivo é preparar os jovens daquela diocese para a Jornada. Ousaria dizer que os frutos da Jornada, na pátria anfitriã, advirão, em grande parte, deste momento e, é claro, de todo o processo de sua construção.

A Jornada, claro, tem também seu momento de turismo, de cultura, de entretenimento. E opções não faltaram: museus, parques, monumentos, igrejas, cinemas, shows... Dificilmente algum jovem voltou para casa sem ter ido a algum destes lugares ou eventos.

A próxima Jornada Mundial da Juventude já tem data, local e tema. Será no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho de 2013, com o tema “Ide e fazei discípulos todos os povos”. Uma comissão do Brasil foi a Madri especialmente para conhecer a Jornada a partir de suas entranhas e, assim, ter uma ideia de como organizar este que é o maior evento da Igreja católica para a juventude.

Em nosso país, a jornada se dará num contexto em que a Igreja no Brasil tem procurado colocar em evidência a evangelização da juventude expressa pela publicação, em 2007, do Documento da CNBB “Evangelização da Juventude – Desafios e perspectivas pastorais”; pela organização do Setor Juventude nas dioceses; pela criação da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, em maio deste ano, e pela Campanha da Fraternidade em 2013. Torcemos para que todo o processo de construção da Jornada responda aos desafios que nos são postos à evangelização da juventude.

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