quarta-feira, 20 de abril de 2011

A coragem que vem da profecia

Pe. Geraldo Martins

A história de violação de direitos humanos no Brasil vem de longa data. Em determinadas regiões os casos se multiplicam e, não fosse o testemunho de destemidos profetas e profetizas, não acreditaríamos. É o caso da Irmã Henriqueta Cavalcante, em Belém do Pará, ameaçada de morte por causa de sua luta em defesa da vida e da dignidade da pessoa humana em seu estado.

Corajosa, a Irmã Henriqueta, em companhia de outros bravos protagonistas, travou uma pesada luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes no Pará, especialmente na Ilha do Marajó. A Assembleia Legislativa do Estado criou a CPI da Pedofilia mediante consistentes denúncias da Comissão Justiça e Paz do Regional Norte 2 da CNBB (que compreende os estados do Pará e Amapá), coordenada pela Irmã Henriqueta. Por causa desta sua atuação profética, Irmã Henriqueta foi ameaçada de morte e, agora, é forçada a morar às escondidas, tem uma frágil proteção policial e vive sob a incerteza do que lhe pode acontecer.

Segundo a Irmã Henriqueta, no Pará há uma verdadeira rede de exploração sexual de crianças e adolescentes. O tráfico de pessoas, um negócio que rende mais que o tráfico de drogas, é outra realidade muito presente no estado e seu combate tem sido ineficiente e ineficaz. Os casos de meninas traficadas para a Guiana Francesa com a promessa de trabalho e que lá ficam presas, sendo forçadas à prostituição, é um pecado que clama aos céus!

A causa de tudo isso? A ausência do Estado, segundo depoimento da Irmã Henriqueta, que não está sozinha nesta luta. Em encontro com os membros da Comissão Brasileira Justiça e Paz, da CNBB, Irmã Henriqueta recordou que, no Pará, há pelo menos 18 pessoas juradas de morte, incluídas no programa de proteção a testemunhas, no entanto, apenas seis têm garantida esta proteção. “Sinto-me em total vulnerabilidade. Só tenho um policial me protegendo e, mesmo assim, porque insisti”, conta a religiosa. O policial, que a acompanha, foi indicado por ela mesma, condição que colocou para aceitar a proteção oferecida.

Nem mesmo esta vulnerabilidade desanima a Irmã Henriqueta, condecorada, em 2009, com o Prêmio João Canuto de Humanos Direitos, oferecido pelo Movimento Humanos Direitos (MHuD). Neste mesmo ano, a Assembleia Legislativa do Pará também homenageou a religiosa conferindo-lhe a medalha do Mérito Legislativo “Newton Miranda”, pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos. “Vou à frente nesta luta porque fiz minha opção de vida. Como eu, há muitas pessoas que sabem que a qualquer momento nossa vida pode ser eliminada”, testemunha Irmã Henriqueta.

Ao ouvir os relatos da Irmã Henriqueta, o sentimento que nos invade é de perplexidade misturada com indignação. Até quando o coração humano se permitirá habitar pela maldade? Onde está o Estado cuja responsabilidade é assegurar a vida com dignidade para todos os cidadãos? Por que, para muitos, a justiça é um bem inacessível?

No sofrimento e na dor destes desprotegidos e desamparados se prolonga a paixão de Cristo, que ressuscita nos gestos samaritanos e restauradores da vida como os da Irmã Henriqueta e dos que com ela combatem estas violações dos direitos humanos. A Páscoa de Cristo anime e alimente nosso sonho de um mundo fraterno, justo e solidário!

Um comentário:

Pe. Geraldo Martins disse...

"Estive recentemente em Belém e notei que, de fato, o Estado é ausente em todos os aspectos, desde o saneamento básico até o policiamento ostensivo. As pessoas dizem que no interior é pior. Esta irmã é corajosa e terá um grande trabalho pela frente. Que DEUS a proteja, porque o Estado não o fará!


Rodrigo Macedo, Basílica de São José, Barbacena/MG."