quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fim do jornal impresso?

Pe. Geraldo Martins

O Pontifício Conselho para as Comunicações reuniu em Roma, durante quatro dias, na semana passada, 220 comunicadores de 85 nações para discutir o futuro da imprensa católica. Eram jornalistas, padres e bispos responsáveis pela comunicação de Conferências Episcopais, de dioceses, de universidades católicas, além de diretores de agências de notícias, de rádios e jornais católicos. A multiplicidade de línguas, culturas e experiências, unidas por uma mesma causa, isto é, a evangelização pela imprensa, nos remeteu, inevitavelmente, a Pentecostes e nos revelou a riqueza desta diversidade de que a Igreja pode desfrutar de forma tão intensa. Poucas instituições têm este privilégio só garantido pela assistência do Espírito Santo, fonte de nossa comunhão e unidade.

O Congresso mostrou que a Igreja não quer perder o bonde da história que passa velozmente, movido pelas mudanças inimagináveis também no mundo das comunicações por causa das modernas e revolucionárias tecnologias. Somando-se aos que olham para o futuro a partir do mundo digital, a Igreja se coloca a questão, já por muitos debatida, mas sem resposta definitiva: a era digital é a sentença de morte da imprensa escrita, do jornal no papel?

Não é uma pergunta fácil de responder, especialmente pela geração que conviveu a vida toda com este tipo de imprensa. Há aí uma mistura de coração e razão da qual é necessário distanciar-se para ver com nitidez para onde os caminhos apontam. A “geração digital”, na expressão de Bento XVI, por já nascer neste novo espaço que cada dia mais nos fascina, talvez diga que sim, contraditando os da geração passada que, como ocorreu no Congresso, ousam afirmar que não. Para estes, o jornal no papel e a imprensa digital conviverão harmonicamente sem que esta última assassine a primeira. A morte do jornal no papel pode até ocorrer, mas não será por agora, acreditam.

Ao que parece, no entanto, o processo é diferente de país para país. Nos Estados Unidos, pelo que falou Amy Mitchell, vice-diretora do Pew Reserach Center, muitos jornais já caminham com dificuldade. No Brasil, um grande e respeitado diário, o Jornal do Brasil, agora só existe na versão digital. A causa de fundo da morte dos jornais impressos é sua sustentabilidade econômico-financeira, dificultada ainda mais com o advento da mídia digital. Nos Estados Unidos, segundo Mitchell, é vertiginosa a queda do investimento publicitário nos diários.

O Congresso revelou que há pouquíssimos jornais católicos diários e de alcance nacional. As experiências apresentadas vieram da França com La Croix e da Itália com Avvenire. Seus diretores revelaram que, de fato, a manutenção de um diário católico é um desafio em todos os campos, desde sua sustentação econômica até a definição de sua linha editorial, passando agora pela convivência com a imprensa digital, que tem outras categorias e exigências com fortes implicações na estrutura de um jornal.

No Brasil, não temos uma estatística da infinidade de jornais, boletins e revistas que circulam nas paróquias, dioceses, congregações e outros organismos católicos. Sem conhecimento de haja um sequer que seja diário, a periodicidade destes jornais e boletins varia de semanal para mensal. Se antes já era difícil sonhar com um jornal diário católico em nível nacional, hoje, por muitas razões, isso é ainda mais difícil. O que me parece mais óbvio, portanto, é o caminho da internet que, aos poucos, vai vencendo barreiras e se tornando também o espaço da imprensa católica, sem, contudo, eliminar o papel. Este ainda terá vida longa no nosso meio como pudemos ver no Congresso do Pontifício Conselho para as Comunicações.

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