Profecia e luta em favor da vida

Pe. Geraldo Martins

Foi uma graça especial de Deus voltar a Ponte Nova, onde iniciei meu ministério presbiteral, para participar do IV Fórum Social pela Vida, realizado pela arquidiocese de Mariana nos dias 29 de julho a 1º de agosto. Graça maior, porém, foi sentir o calor e o entusiasmo dos 500 participantes que, ancorados na fé, defenderam uma Igreja cada vez mais encarnada, capaz de identificar-se com as lutas do povo que tem sua vida ameaçada de muitas formas.

O testemunho daquelas lideranças vindas de todas as regiões da arquidiocese deu-me a certeza de que a profecia, na Igreja, não morreu. Está viva e atuante no trabalho dos que atuam junto aos atingidos por barragens, aos encarcerados, aos sem moradia, aos pequenos agricultores, aos jovens, às crianças e adolescentes, dentre tantos outros grupos com os quais Cristo se identifica.

O Fórum colocou sobre a mesa um tema extremamente atual – economia e ecologia -, que constitui como que as duas faces de uma mesma moeda. No centro do debate estava a vida humana, no campo e na cidade. Fazer com que a economia e a ecologia estejam a serviço da vida no planeta terra foi o grande desafio posto à Igreja de Mariana pelos participantes do Fórum. Eles desenharam com um realismo impressionante a realidade sombria construída pelos que defendem um desenvolvimento que desrespeita a natureza e descarta os pobres.

A presença do arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, ouvindo atento os protestos e as aspirações do povo, que saiam com a liberdade de quem confia no seu pastor e na Igreja que ele conduz, me fez pensar na reciprocidade de conhecimento que deve haver entre o pastor e suas ovelhas, como lembra Jesus: “Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10,13). Aliás, a participação de dom Geraldo foi também destacada na palestra que proferiu, na missa que presidiu e na caminhada que fez no meio do povo, sob sol escaldante, para abraçar o rio Piranga.

As decisões, contidas na Carta-compromisso, são uma prova inequívoca do comprometimento das lideranças da arquidiocese de Mariana com as grandes causas demandadas pela realidade na qual estamos todos inseridos. Antes de tudo, a arquidiocese reafirma sua opção preferencial pelos pobres, opondo-se a toda globalização que não tenha a solidariedade como bandeira.

A partir daí é que nascem os demais compromissos como o de manter a profecia na ação pastoral, investir na comunicação popular, atuar nos Conselhos de Direitos, apoiar os Movimentos Sociais e Populares, intensificar a conscientização política e incentivar a Economia Solidária.

Vê-se, por estes compromissos, que o legado de dom Luciano continua vivo na arquidiocese, como afirmara o próprio dom Geraldo na abertura do Fórum: “Essa herança [do Fórum] nós a recebemos do nosso saudoso e inesquecível dom Luciano. Foi ele quem abriu a Igreja de Mariana para viver mais intensamente a Dimensão Sociopolítica. Hoje, no céu, certamente ele se alegra em ver a realização deste IV Fórum”.