quarta-feira, 14 de julho de 2010

Seminaristas, padres e missão além-fronteiras

Pe. Geraldo Martins

A Missão é uma das teclas na qual a Igreja da América Latina tem batido com insistência, especialmente, a partir da V Conferência dos bispos da América Latina e Caribe, realizada em Aparecida há três anos. Sua meta é fazer com que cada cristão assuma seu compromisso de missionário, recebido no batismo, e, assim, ser uma Igreja toda missionária, capaz de cumprir plenamente o mandato de Jesus Cristo: “Ide, fazei que todos se tornem meus discípulos”.

No Brasil, missão se tornou quase uma palavra de ordem. Ao seu modo, paulatinamente, cada diocese vai tentando fazer com que a missão seja uma de suas prioridades. Algumas vão pelo bem sucedido caminho das Missões Populares; outras pelo envio de missionários a dioceses mais carentes da mão de obra missionária, numa perspectiva além-fronteiras. Neste cenário, Amazônia aparece como destinatária primeira, dadas as suas peculiaridades.

Na perspectiva de uma Igreja Missionária, os padres têm papel fundamental. Daí a preocupação com a formação dos futuros padres. A pergunta que se faz é: até que ponto a missão é parte integrante da formação dos seminaristas? Como a missão lhes é apresentada? Como veem a missão? Estas perguntas parecem estranhas, porque é de se supor que todo padre seja missionário. Pode até ser, mas não numa dimensão além-fronteiras. Daí a sua pertinência.

Um Congresso Missionário de Seminaristas realizado no início de julho, em Brasília, aprofundou estas questões ao discutir as cinco dimensões da formação dos seminaristas na perspectiva da missão além-fronteiras. Os 150 seminaristas que participaram do Congresso, vindos das cinco regiões do país, revelaram a alegria de sua vocação, a consciência de que sua formação missionária é ainda insuficiente, em alguns casos até inexistente, e o desejo de aprofundar sua formação missionária e se apresentar para experiências concretas de missão.

Isso ficou claramente expresso na mensagem que divulgaram ao final de seu encontro: “Cônscios da real necessidade de formarmos nos Seminários vocações verdadeiramente missionárias, vimos, por meio desta, encarecidamente pedir aos senhores bispos, formadores e seminaristas, que desenvolvam nos Seminários e Institutos uma formação voltada para a missão além-fronteiras. Cremos que se houver investimento, numerosas vocações missionárias brotarão no seio dos Seminários, a começar por nós que participamos deste Iº Congresso Missionário”.

Eles demonstraram, ao mesmo tempo, ter clareza de que este não será um trabalho fácil. Exigirá a sensibilidade da diocese, a disposição dos formadores e a abertura dos seminaristas. Mostraram preocupação, apresentada em forma de denúncia, com o grande número de seminaristas que se rendem à tentação do que chamaram de 5 C: Casa, Carro, Celular, Computador e Conta no banco, obstáculo intransponível para alguém ser missionário.

Os seminaristas entenderam que é impossível assumir a missão sem um despojamento total. Sabem que a missão exige, não apenas o sair de seu espaço físico, de sua cultura, mas, sobretudo, o sair de si mesmo, num esvaziamento radical a fim de ser preenchido pela riqueza da nova realidade que será assumida na missão.

O Congresso trouxe a esperança e a certeza de que, fazendo da missão uma disciplina transversal na formação dos seminaristas, não faltarão padres com vocação missionária além-fronteiras. É disso que a Igreja precisa. É isso que o povo espera.

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