quinta-feira, 20 de maio de 2010

Imprensa de uma pauta só

Pe. Geraldo Martins Dias

A 48ª Assembleia da CNBB terminou há uma semana. Quem a acompanhou pela grande mídia deve ter ficado com a impressão de que os bispos do Brasil passaram dez dias discutindo sobre pedofilia na Igreja. Afinal, foi só o que saiu na imprensa. Reconheço a importância e relevância desta pauta, sobretudo ao considerarmos os últimos acontecimentos envolvendo membros da Igreja, inclusive no Brasil. A palavra da CNBB já era esperada e a Assembleia tornou-se o momento oportuno para fazê-lo. A imprensa, porém, perdeu ótima oportunidade de pautar outros temas discutidos pelos bispos igualmente relevantes para a sociedade brasileira.

A questão agrária, por exemplo, foi um destes temas. Um estudo aprofundado sobre o problema da terra no Brasil mereceu da CNBB amplo debate. O tema foi apresentado na coletiva de imprensa e nem assim foi pautado pela mídia. O texto apresentado aos bispos será publicado pela CNBB para ser estudado pelas bases e, eventualmente, transformar-se em documento da CNBB.

Outro assunto que caberia muito bem na mídia foi o combate ao trabalho escravo. Isso também fez parte das preocupações dos bispos durante a Assembleia e sequer foi citado pela imprensa. A Igreja, juntamente com outras organizações, tem envidado todos os esforços pela aprovação da PEC 438 de combate ao trabalho escravo, parada no Congresso há tempos. Esta é uma bandeira social que a imprensa deveria empunhar de forma decisiva, mostrando números e estatísticas desta realidade que envergonha nosso país.

Poderíamos citar, ainda, outros assuntos perfeitamente pautáveis durante a Assembleia dos bispos como a ajuda da Igreja do Brasil ao Haiti, o projeto Ficha Limpa e Eleições. No entanto, nada disso interessou aos jornalistas de forma a render boas matérias. Para se ter uma ideia, a Cáritas Brasileira, organismo ligado à CNBB, desde janeiro, já arrecadou 7,3 milhões de reais com a Campanha SOS Haiti. Um bispo e um padre haitiano vieram ao Brasil, especialmente, para agradecer à CNBB o apoio ao seu país, destruído pelo terremoto de 12 de janeiro.

A mídia católica pautou estes assuntos e outros que, diríamos, são mais internos à Igreja como o tema central, que versou sobre a Palavra de Deus, e o documento da formação dos padres. Para este trabalho, a Canção Nova mobilizou cerca de 50 profissionais e a Rede Vida, aproximadamente 30. Lá estavam também a Rádio Vaticano, Rádio Aparecida, Rádio Milícia, TV Arautos, TV Século 21, além de vários jornais de dioceses. Todos fizeram um belo trabalho e, graças a eles, muitos souberam que a pauta da Assembleia dos Bispos não se restringiu à discussão sobre pedofilia na Igreja. O desafio que permanece é como fazer com que a imprensa como um todo não faça jornalismo de uma pauta só.

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