segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cônego Leandro, cidadão celeste

Pe. Geraldo Martins

Côn. Leandro! Seguramente este era um dos nomes mais conhecidos em Barbacena. Sua história de vida e de ministério presbiteral se confunde, de certa forma, com o nome da cidade. Afinal, foram 50 anos servindo ao povo de Deus na cidade das rosas. No bairro São Sebastião onde fica a paróquia de mesmo nome que ele dirigiu por 49 anos, Côn. Leandro era uma referência. Medo e respeito se misturavam quando seu nome era pronunciado. Agora, só restarão lembranças e histórias que haverão de perpetuar sua memória entre nós. Ele partiu para a casa do Pai e, merecidamente, é chamado a gozar da glória reservada aos servos bons e fiéis do Senhor.

Lembro-me da primeira vez que fui concelebrar com o Côn. Leandro. Foi em janeiro de 2003. Era a festa do padroeiro de sua paróquia. Exercendo a função de vigário episcopal da Região Pastoral Mariana Sul e morando na paróquia São José, em Barbacena, senti-me no dever de participar de sua festa. Fui muito bem acolhido. Chamou-me a atenção o número de participantes da missa e a disciplina. Além disso, outros dois fatos chamaram-me a atenção.

O primeiro foi durante a consagração. Éramos um número relativamente grande de padres concelebrando. A Presidência da missa era, naturalmente, do Cônego. No momento da consagração, ele passou o microfone a um outro padre que fez as orações em português e o cônego, quase que sussurrando, as fez em latim. Soube depois que esta era sua prática. E ele mesmo me confidenciou, certa ocasião, que não concordava com a tradução do latim para o português. Cheguei a brincar com ele por causa disso e rimos muito. De sua boca saiam, simultaneamente, nuvens de fumaça de seu inseparável cigarro e gostosas gargalhadas de quem estava de bem com a vida.

Nesta mesma celebração, logo no início, foram apresentados os padres concelebrantes. Ele mesmo fazia questão de dizer quem era o padre e o que fazia. Quando chegou a minha vez, com ar de brincadeira, ele disse: “Esse aqui é o vigário episcopal? O que é isso?”. A igreja toda achou graça e assim nasceu entre nós uma boa amizade. Sempre que podia, eu o visitava.

Cônego Leandro agora é cidadão celeste. Partiu com 83 anos e muita história acumulada. Premiado com uma grande inteligência, distinguido por sua fidelidade à Igreja e pela intransigência nas suas convicções, ferrenho torcedor do “glorioso” Botafogo, Cônego Leandro será sempre lembrado em Barbacena e na arquidiocese de Mariana. Devoto de São Pio X, o papa das crianças e da eucaristia, ele agora é chamado a participar do banquete eterno preparado para os que em vida testemunharam seu amor a Cristo, nossa vida e ressurreição.

Foto: Luiz Lúcio/Barbacena

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