sábado, 11 de julho de 2009

Ministros da nova Aliança

Pe. Geraldo Martins

Somos todos viandantes. E com que pressa caminhamos! A aurora nem bem anunciou o novo dia e já estamos de pé, fazendo tudo numa correria louca. Para alguns, é injustificável o ritmo frenético que não os deixa saborear a vida e seus encantamenos. São cobrados pelo inconsciente que lhes dita um ritmo fatigante na perspectiva de obter muitos e bons resultados em tempo recorde. Para outros, talvez a grande maioria, a celeridade rotineira é sinal de sobrevivência. Um pequeno atraso pode significar a perda do ônibus, do metrô ou da carona para o trabalho ou então o engarrafamento do trânsito que o faz chegar estressado ao serviço, vomitando raiva em todos que encontram pela vida. Triste, não?!

Esse ativismo irracional é o que marca, também, a vida de muitos padres que mergulham profundo na sua missão evangelizadora. O corre-corre para dar conta de uma agenda superlotada nem sempre lhes permite dedicar mais tempo às pessoas e a si mesmos. Fomos vencidos, não sem razão, pelo vírus de um ativismo sem precedentes. Pior é quando não nos damos conta disso e continuamos como se tudo estivesse normal. O povo que o diga!

Há, sem dúvida, inúmeras saídas para a superação deste mal. Uma delas é o retiro espiritual que, no contexto da realidade descrita acima, nos coloca como privilegiados diante de uma multidão que não pode se dar ao luxo de parar uma semana somente para estar com Deus, com os irmãos e consigo mesmo, imerso na solidão do seu eu para, aí, sentir o amor de Deus e dos irmãos.

Acabo de vir desse oásis restaurador. Éramos, aproximadamente, 70 irmãos presbíteros reunidos na mesma casa que nos acolheu por seis ou quatro anos, no período de nossa formação, o Seminário São José, em Mariana, cidade berço do catolicismo mineiro. A orientar-nos, um irmão bispo que a todos cativou pelo jeito fraterno e simples de se colocar em nosso meio. Baiano de fala mansa, exalava, a um só tempo, a saudade de seus tempos de pároco na Bahia de todos os santos e a alegria de viver o seu ministério episcopal na longínqua Santarém, no Pará, estado de natureza exuberante, de povos e culturas incomuns.

Silêncio?! A gente fez menos do que devia, devemos confessar. Quem disse, porém, que as conversas, em tom mais alto ou ao pé de ouvido, também não são uma boa prédica a nos ajudar em nosso ministério?! Até o riso ou a gargalhada pode ser um jeito de falar com Deus ou de Deus nos falar. As liturgias foram simples, nem por isso menos piedosas e profundas.

Reflexões e partilhas. Eis o ponto alto deste nosso encontro de espiritualidade. Quem não vai se lembrar, por exemplo, da palavra clara, despretensiosa, profundamente bíblica e segura de dom Esmeraldo Barreto de Faria (este é o nome do bispo baiano, totalmente inculturado na Amazônia, servindo a Santarém) acerca da Nova Aliança que Deus faz com a humanidade?! É uma Aliança de amor cuja iniciativa é sempre de Deus.

Nós, os presbíteros, somos ministros desta Nova Aliança, concretizada em Jesus Cristo, único mediador do amor misericordioso do Pai. Ah, que falar então da belíssima afirmação de que nosso ministério é um dom e não um direito! É Deus quem no-lo dá gratuitamente. Na perspectiva do direito, o ministério leva à reivindicação; como dom, é Deus quem o inscreve em nosso coração. Que não esqueçamos isso jamais! Obrigado, dom Esmeraldo, por nos recordar esta verdade.

Outra riqueza foram as partilhas. Como foi bom ouvir os companheiros relatando suas experiências pastorais, fazendo memória às comunidades por onde já passaram, declamando nomes de personagens, padres e leigos, gigantes na evangelização! Foi fantástico! Impossível não se emocionar com a lembrança de figuras emblemáticas de nosso clero como Mons. Horta, Pe. Renato, Pe. Nascimento, Pe. Antônio Pinto, Pe. Avelar, Mons. Diniz Vale, Dom Luciano. É o Ano Sacerdotal vivenciado de forma muito fraterna. Outros dois nomes foram trazidos pelo pregador: Pe. Ibiapina e Pe. Antoniazzi. Deste último, valeu o testemunho dado por Dom Geraldo, nosso arcebispo, seu colega de seminário em Belo Horizonte. Todos estes e tantos outros nomes que vieram à nossa mente e ficaram em nosso coração são, com justiça, referenciados por sua santidade e exemplo de ministros da Nova Aliança.

De volta às nossas tarefas cotidianas, nossas comunidades e as pessoas que convivem conosco sintam, a partir de nossas palavras e ações, os efeitos deste tempo privilegiado que passamos junto de nosso Mestre e Senhor, Jesus Cristo. Ministros da nova Aliança, sejamos-lhe fiéis servindo o povo com alegria, apontando-lhe o Cristo, fonte restauradora do estresse de cada dia.

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