quarta-feira, 8 de abril de 2009

Você se preocupa com a crise?

Pe. Geraldo Martins

Uma excelente cartilha explicando a crise mundial e suas consequências na vida da população acaba se ser publicada pela Assembleia Popular, uma organização que reúne os movimentos sociais, ONGs, pastorais sociais, centrais sindicais e inúmeras outras entidades. Sua linguagem popular, clara e objetiva é um facilitador para o entendimento desta situação de alcance global cujas raízes e implicações ainda são desconhecidas da maioria do povo brasileiro. Aliás, o próprio presidente Lula tem contribuído para ser assim ao chamar a crise de “marolinha” e ao instigar o povo ao consumo como se o Brasil não fosse afetado por ela. Esta imagem ficou ainda mais reforçada quando, entre euforia e sorrisos, Lula disse, em Londres, que queria passar à história como o presidente brasileiro que, pela primeira vez, emprestou dinheiro ao FMI. Ao que parece isso vai se confirmar. Notícias recentes dão conta de que o Brasil vai mesmo emprestar U$ 10 bi ao FMI. Quem pagará o pato por isso?

A cartilha da Assembleia Popular, no entanto, revela a gravidade da crise, que se torna mais profunda quanto maior for a ignorância do povo a seu respeito. Uma leitura retrospectiva da história faz perceber que esta é a terceira crise financeira por que passa o mundo. A primeira se deu em 1870 e atingiu toda a Europa. Já a segunda, de 1929 a 1945, teve proporções ainda maiores.

Os integrantes da Assembleia Popular estão convencidos de que a atual é uma crise econômica, ambiental, social e política, que coloca em xeque os paradigmas do capitalismo. Por essa razão ela é profunda, por atingir todos os setores da economia e da sociedade; internacional, por afetar todos os países, aí incluído, portanto, o Brasil; e prolongada, uma vez que ninguém se arrisca a dizer até quando vai.

A Cartilha aponta pelo menos seis consequências desta crise na economia brasileira. A primeira é a queda da produção industrial, agrícola e do crescimento econômico. Em segundo lugar vem a queda das exportações seguida da queda da taxa de investimento das empresas e do governo. A quarta conseqüência é a desvalorização de nossa moeda, o real, frente ao dólar. As duas últimas são a diminuição da remessa que os trabalhadores brasileiros no exterior enviavam às suas famílias e a diminuição dos volumes de capital disponíveis para crédito aos consumidores de bens.

Já a classe trabalhadora sofrerá ainda mais. Com a crise é cada vez mais iminente o desemprego (já temos visto isto, por exemplo, na Embraer e em outras empresas), a queda da renda. Além disso, o Governo terá menos recursos para as políticas públicas, como saúde, educação e transporte, e os preços dos alimentos devem subir enquanto os produtos dos pequenos agricultores ficarão menos valorizados.

Outro risco que correm os trabalhadores é o da perda de direitos sociais e trabalhistas por pressão das empresas que querem, a todo custo, recuperar os lucros e investimentos. O aumento da energia elétrica, do transporte e da água, dentre outros serviços necessários, acrescido do aumento da inadimplência são outras conseqüências da crise cada vez mais evidentes.

Como se vê, o quadro não é nada animador. Daí a necessidade de todos tomarmos consciência de sua gravidade. Quanto mais a população tiver clareza das causas e consequências da crise, tanto mais poderá opinar e agir para sua solução, inclusive pressionando o Governo para que tome as medidas certas para superá-la. De outra parte, cabe a cada um tirar lições desta crise, mormente no que diz respeito aos valores pelos quais vale a pena viver, lembrados de que só na partilha e na solidariedade, fruto de nosso amor pelo outro, nos mostraremos verdadeiramente humanos. É aí que está a felicidade e a realização que buscamos, não na ganância e no acúmulo como prega o capitalismo. Entender isso é fundamental para rever e mudar o sistema sob o qual vivemos hoje.

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