sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

No caminho certo, porém, longe da meta

Pe. Geraldo Martins

Há quase 20 anos, os padres e diáconos da arquidiocese de Mariana promovem, anualmente, um encontro cujo alcance pode ser mensurado a partir de uma análise da própria caminhada pastoral da arquidiocese. Introduzida pelo saudoso dom Luciano Mendes de Almeida, esta prática se consolidou como uma forma de estreitar a comunhão entre os padres e como um espaço privilegiado de debate de questões ligadas à sua vida e ao seu ministério. Sem saudosismos, um olhar retrospectivo revelará o quanto estes encontros têm sido determinantes na configuração de nossa arquidiocese no estágio em que se encontra.

Conscientes da dinamicidade que marca a vida da Igreja e preocupados com atualização permanente da ação evangelizadora, os padres e diáconos de Mariana se debruçaram, no encontro deste ano, realizado esta semana, dias 16 a 20, sobre a provocante e desafiadora proposta da Conferência de Aparecida que convoca as paróquias a transcenderem uma pastoral de manutenção e renovarem suas estruturas. A renovação das estruturas das paróquias se constituiu, pois, no cerne da reflexão dos padres e diáconos que se mostraram destemidos e decididos a buscar caminhos que levem ao pleno cumprimento desta meta.

Uma constatação a que se chegou com muita facilidade foi que a arquidiocese de Mariana, pela sua organização e metas pastorais, já se encontra na direção proposta pelo Documento de Aparecida, que é a descentralização das paróquias e a constituição de pequenas comunidades. Afinal, há anos a arquidiocese tem como horizonte a organização de pequenas comunidades que, trabalhando em rede, sejam espaço de comunhão e participação, evidenciando o protagonismo dos leigos e facilitando-lhes o exercício dos ministérios que lhes são próprios, segundo a necessidade das comunidades. As CEBs são, neste sentido, a grande referência da arquidiocese, mesmo se se considera que nem todos as assumiram como meta.

Essa constatação, no entanto, longe de levar os padres e diáconos a uma acomodação, os fez perceber que outros passos precisam ser dados para a plena efetivação da descentralização das paróquias e consolidação de uma arquidiocese organizada em paróquia “Comunidade de comunidades”.

Desafios para o cumprimento deste gigantesco trabalho não faltam. Somos uma arquidiocese quase tricentenária. Aqui se cristalizaram estruturas eclesiais e práticas de religiosidade que já não respondem mais às exigências da evangelização num mundo caracterizado por mudanças rápidas e de alcance global. Mesmo agraciados com um número de padres que foge da média nacional, sofremos da mesma angústia de ver a maioria de nossas comunidades sem a eucaristia dominical. A dependência de padre tem raízes profundas e, por isso, dificulta, em muitos lugares, a aceitação da liderança dos leigos. A caracterização rural de nossa arquidiocese também já sofreu profundas modificações advindas do fenômeno da urbanização que incha as cidades e dificulta formar comunidades. Adite-se a tudo isso a realidade política e econômica com incidência direta na vida de nossas comunidades.

Ainda que o encontro não tenha aprofundado de maneira exaustiva estas e outras questões, ficou evidente que os padres e diáconos estão conscientes de que elas existem e nos desafiam a todo instante. Mais que isso, senti que todos saíram comprometidos com esta tarefa, que só alcançará êxito se realizada na comunhão. Não tenho dúvidas de que o encontro serviu como uma fonte na qual cada um bebeu a restauradora água do ânimo missionário segundo sua própria sede. Mostrou-nos que estamos no caminho certo, porém, longe da meta.

Nenhum comentário: