sábado, 24 de janeiro de 2009

“Ou mudamos ou vamos para situações dramáticas”, afirma Leonardo Boff

Pe. Geraldo Martins

O teólogo Leonardo Boff abriu o ciclo das conferências do III Fórum Mundial de Teologia e Libertação, na quinta-feira, 22, em Belém (PA), sob os olhares e os aplausos entusiasmados de mais de 700 participantes vindos dos cinco continentes do planeta. Na assembléia, teólogos, religiosos e religiosas, leigos, lideranças populares, de diversas religiões e culturas davam o tom da diversidade e da pluralidade que marcam o evento.

Sem ser dramático, mas de modo muito realista, Boff apontou a urgente necessidade da humanidade mudar de postura na sua forma de se relacionar com a terra e com a natureza ao abordar o tema Água, terra, teologia para outro mundo possível. “Ou mudamos ou vamos para situações dramáticas”, disse. “O desafio é criarmos uma aliança global e cuidar uns dos outros. Se não cuidarmos da casa comum, o planeta terra, não teremos onde habitar porque é a única casa que temos para morar”, completou.

Ecologia humana
Segundo o teólogo, a ecologia deve ser compreendida como meio ambiente e como sociedade humana. “A Ecologia não pode ser entendida como um procedimento técnico, mas como uma arte, um novo paradigma, uma nova forma de relacionamento com a terra, com o ser humano; nova forma de distribuição do poder”, afirmou.

O teólogo condenou a exploração da terra que deve ser compreendida com “mãe e casa”. “Normalmente a terra é compreendida como baú de onde se tira sustento. Esse é um conceito pobre; ela é um grande organismo vivo”, acentuou.
Boff disse ainda que a ecologia não pode ser vista só como meio ambiente, mas também como “sociedade humana” ou “ecologia político-social”. Ele denunciou o projeto de desenvolvimento que explora a terra indefinidamente com vistas ao lucro. “O projeto civilizatório que propõe explorar a terra entrou numa profunda crise, que não é cíclica, mas terminal. O desenvolvimento sustentável mostrou-se infinitamente insustentável. Vive da ilusão de que os recursos são infinitos. Vinte por cento da humanidade consomem 80% de todos os recursos da terra e da natureza. Isso é uma profunda injustiça social, que gera injustiça ecológica. Tudo é feito mercadoria, desde o sexo até a Santíssima Trindade. Tudo é feito para ganhar dinheiro”.

Água, bem vital
O teólogo falou, ainda, a respeito da água e reafirmou que este “bem vital” não pode ser confundido com “um bem econômico”. Ele condenou a tendência mundial de privatização do chamado “ouro azul”. “Hoje há uma corrida mundial para privatizar a água porque quem domina a água, tem poder sobre a vida, e quem tem poder sobre a vida, tem poder total”, afirmou. Segundo Boff, existem apenas 3% de água potável no mundo e, desse total, somente 0,7% está acessível ao ser humano. Segundo disse, 60% da água estão em apenas nove países, gerando má distribuição da água e que, se não houver política pública sobre a água, metade da população mundial ficará sem ela daqui a 30 anos. “Falta um contrato social da água”, advertiu.

Preconceito
O teólogo vê dois preconceitos em relação à ecologia que precisam ser vencidos, o preconceito do “antropocentrismo e o da integração ecológica”. “As coisas só valem se se ordenam em função do homem, mas a terra não precisou de nós para elaborar sua imensa biodiversidade. E ela não produziu só a nós, mas também os outros organismos, por isso, não cabe antropocentrismo, mas comunhão”, observou.
Sobre a “ecologia integral”, Boff lembra que “somos parte do imenso universo, sustentados pelas quatro energias que ninguém consegue dominar. Aqui cabe a comunhão e não a dominação”.

Papel das Religiões
Qual a função das religiões em tudo isso? O teólogo responde: “A grande função das religiões é ensinar o cuidado e a reverência a todo ser do Criador. Devem suscitar no ser humano a capacidade do cuidado e do respeito que vão por limite a nossa vontade”. E concluiu que é preciso dominar a criação, “mas como Deus a domina”. “Esta é a nossa responsabilidade e a lição que as religiões devem nos dar. Se não dermos nossa colaboração poderemos ser cúmplices da catástrofe”.

Um comentário:

Guto.Cachoeira disse...

PE.Geraldo, não sei se vc vai ler esta mensagem. Alias, tenho enviado alguns "e.mail" a vc não tenho resposta, acredito que o endereço eletrônico esteja errado. Estamos vivendo um momento especial aqui em Cachoeira do Campo e sentimos muito sua falta, com seu dinamismo em favor daqueles que sofrem a exploração do ganancioso sistema capitalista.
Mas meu assunto central diz respeito a Rádio Sideral que tem por lema “não basta estar no ar tem que ser comunitária”. Este lema é apenas uma fachada ridícula. Esta emissora hoje, infelizmente, é tratada com uma “emissora governamental”. Pessoas da comunidade que de alguma forma não concordam com atual “administração” é literalmente proibidas de participar das atividades da Rádio. Um grande cidadão cachoeirense que fez denúncias consistentes sobre a atual “administração” foi proibido de falar sobre FUTEBOL Regional, por um coordenador da Radio Sideral. Outro cidadão que eu considero o “Cavalheiro da Esperança do século XXI” fez um pedido para ter acesso ao estatuto da rádio e foi simplesmente negado. Que rádio comunitária é essa??? Sobre a negação do acesso ao estatuto ao povo de Cachoeira é nosso objetivo levar ao conhecimento do Bispo esse absurdo cometido pelos gestores da Radio “Comunitária”.
Por Fim é muito estranho que quando a Prefeita era Mariza Xavier essa rádio tanto colaborou para mostrar a verdadeira face daquele fatídico governo. E agora, tantas coisas estranhas acontecem e nada!
PE. Geraldo desculpe meu desabafo, mas as coisas estão cada dia piores, tenho medo do irá acontecer com futuro.
Um Grande sincero abraço sabe que admiro o seu trabalho e sua luta em favor da nossa gente.

"Ou mudamos ou vamos para situações dramáticas" L.Boff