terça-feira, 11 de novembro de 2008

A crise

Pe. Geraldo Martins

A bola da vez, nos meios de comunicação e em todo lugar, é a crise financeira mundial. Quantos entendem o que significa e quais suas conseqüências é difícil dizer, considerando que a maioria de nós pouco compreende o “economês” usado para explicá-la. De uma coisa, porém, ninguém duvida: o problema é sério e atingirá a todos. Até quando vai? Nenhum economista, vidente mais requisitado para o assunto, ousa arriscar um palpite. A maioria, no entanto, concorda em pelo menos duas coisas: a crise não é de agora e sua duração não será tão breve quanto se pretende.

Esta crise, originada na maior potência econômica do mundo, na leitura de muitos, denuncia a falência do sistema capitalista neoliberal que idolatrou o mercado, expurgando o Estado de setores importantes e enaltecendo o privado que produz mais e melhor com muito menos, ao contrário do Estado, tido como mau gestor. O jornalista José Aberx Júnior escreveu na Caros Amigos: “Todas essas crises são manifestações, em planos distintos, do mesmo fenômeno: a impossibilidade da ordem mundial neoliberal. Não há como manter o padrão de consumo e desperdício praticado nos Estados Unidos e pelas camadas mais ricas da população mundial, nem é sustentável uma lógica que transforma alimento em combustível, com a conseqüente criação de imensas monoculturas e devastação de campos e florestas”.

O consumismo, portanto, estimulado pelo capitalismo chegou ao seu extremo e está na base desta crise, dada a facilidade de crédito que seduz a todos. Comprar sem dinheiro agora é possível graças ao crédito fácil oferecido pelos bancos e financiadoras. Um exemplo claro vem setor automobilístico. Nunca se viu tanto carro zero na praça!

O presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, economista Márcio Pochmann, fez uma análise interessante a respeito do consumismo. Ele disse que, há cem anos, as famílias tinham em média 15 a 20 pessoas, que moravam em casas pequenas, e a expectativa de vida das mulheres era de 35 a 40 anos. Hoje, as famílias têm em média quatro pessoas, a expectativa de vida das mulheres é de 72 anos, as casas são três a quatro vezes maiores e não têm espaço porque estão cheias de bens acumulados pelo desejo desenfreado do consumo.

Todos estamos de acordo que o Estado precisa agir para estancar a crise e evitar um colapso total das nações. Neste sentido, assistimos à busca quase desesperada de solução. As famosas Bolsas de Valores parecem pacientes na UTI, agonizando em estado terminal, com os batimentos cardíacos oscilando de forma dramática. Os Governos dos países mais ricos do mundo, como uma junta médica a discutir o melhor remédio para salvar o paciente, decidiram aplicar uma injeção de incalculáveis dólares ou euros para acalmar o mercado agonizante. Só o Banco Central dos Estados Unidos destinou, até meados de setembro, um trilhão de dólares, cerca de 10% do PIB estadunidense, para socorrer bancos e seguradoras falidos.

E o Brasil, como está diante da crise? Na opinião do presidente do IPEA, o Brasil hoje está melhor que há dez anos e reage bem à crise. Ele não acredita, porém, que seja possível manter o nível de desenvolvimento e entende que a saída é aumentar o gasto público. “Isso significa gastar o superávit primário”, afirma Pochmann.

Continuamos a acompanhar o desenrolar dos fatos, assistindo aos telejornais, lendo os economistas, trocando idéias e até arriscando palpites sobre a crise financeira mundial, torcendo para que seja debelada o quanto antes. Ao ver, porém, a solicitude dos países ricos que abrem seus cofres e sacam tanto dinheiro para socorrer os bancos, fica uma dúvida: por que nunca tiveram a mesma solicitude com os que morrem de fome? No dia em que abrirem os cofres também para os pobres, o outro mundo possível nascerá.

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