sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Balanço das eleições

Pe. Geraldo Martins

Quem pensa que, terminado o segundo turno no domingo passado, acabou o clima de eleições no Brasil está enganado. A contagem de votos do segundo turno nem havia começado e lá estava a televisão com sua “cobertura completa das eleições”, reunindo jornalistas, políticos e cientistas políticos para analisar o resultado. Na segunda-feira, os debates e análises continuaram em todos os meios de comunicação com as repetições de sempre: por que este ganhou e aquele perdeu?; como foi a virada naquela capital?; qual padrinho político foi mais determinante?; quais partidos mais ganharam e quais ficaram mais enfraquecidos? Tudo, porém, na ótica da sucessão presidencial de 2010, com os analistas dizendo até nome de quem tem mais ou menos chances para suceder o presidente Lula.

Sem entrar no mérito destas e outras questões, há, sim, dados interessantes e reveladores nas eleições que apareceram nas mesas-redondas pós-eleições. O primeiro para o qual chamo a atenção é o número dos prefeitos reeleitos. Mais de 60% dos atuais prefeitos (3.435) tentaram um segundo mandato e 66% deles saíram vitoriosos das urnas (2.266). Isso representa 40% dos que assumirão as prefeituras a partir de janeiro. Os dados são da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Aqui, há pelo menos duas hipóteses: ou de fato a população que reelegeu seus prefeitos ficou satisfeita com seu trabalho e optou pela continuidade, ou pesou a estrutura da máquina administrativa. Na primeira hipótese, saem fortalecidos os que defendem a reeleição; na segunda, ganham força os contrários a esse sistema que começou a vigorar em 2000.

Outro dado interessante é que 90,9% dos eleitos são homens. Isso revela que o mundo da política é predominantemente masculino, ainda que consideremos o avanço da participação das mulheres em relação às eleições anteriores. Acredito que esse quadro mudará a cada eleição, considerando que a mulher está cada vez mais presente em setores da sociedade nunca antes imagináveis.

A idade dos eleitos é outro fator a ser considerado. Segundo a CNM, 71% dos eleitos têm entre 36 e 55 anos. Quantos desses significam prolongamento dos caciques da política ou esses seriam figura em extinção?

Em relação aos partidos, até certo ponto, nenhuma novidade. PMDB, PSDB, PP, PT e DEM, nesta ordem, reinam absolutos em números de prefeituras e de votos conquistados, apesar das grandes perdas do DEM e do PSDB. É claro que isso terá muito peso na eleição de 2010.
Até que ponto o apoio do presidente da República ou dos respectivos governadores ajudou os eleitos? Este foi outro tema das análises pós-eleição. Embora não se tenha uma estatística, a idéia que predomina é que o voto não se transfere e que o eleitor se mostrou soberano no seu direito de escolher. Verdade ou não, em alguns municípios, o apoio do Governador foi fundamental para a vitória do candidato. Em outros, porém, a derrota foi inevitável. A aliança por si não garante a vitória. O candidato precisa ter um mínimo de empatia e ganhar a confiança do eleitor.

As eleições foram uma festa da democracia. Concordo. Como não lamentar, porém, os eleitos com pendência na justiça e a compra de votos que ainda se viu nestas eleições? Não podemos nos acomodar com os avanços que tivemos, nem desanimar diante de vícios que se repetiram. É sempre oportuno lembrar que nossa participação política não se esgota com o voto, mas começa com ele. Por meio dele, nos tornamos co-gestores com os eleitos. Acompanhá-los em sua gestão é um dever que se nos impõe sob o risco de, não o fazendo, vermos aumentar o sofrimento dos que o sistema exclui e descarta.

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