sábado, 18 de outubro de 2008

Ultrapassar as próprias fronteiras

Pe. Geraldo Martins

O clima missionário toma conta de toda a América
Latina desde o encerramento da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e Caribe, realizada em maio do ano passado em Aparecida (SP). Ali os bispos decidiram pela realização da Missão Continental, lançada, recentemente, em Quito, no encerramento do 3o Congresso Americano Missionário, no mês de agosto. O grande objetivo, declinado no Documento da Conferência, é tornar cada pessoa batizada um autêntico discípulo-missionário de Jesus Cristo. Tarefa para lá de gigantesca, considerando nossas atuais estruturas paroquiais e o histórico de nossa evangelização cujas lacunas são facilmente percebidas no descompromisso da maioria dos católicos que, ao seu modo, se sentem cristãos, mas não se sentem Igreja.

No Brasil, a CNBB acaba de aprovar o novo Projeto Nacional de Evangelização intitulado “Brasil na Missão Continental”, que coloca a Igreja do nosso país em comunhão com o projeto latino-americano. Fruto das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil aprovadas pela CNBB em sua assembléia deste ano, o Projeto retoma o objetivo da Missão Continental latino-americana na perspectiva de colocar a Igreja do Brasil em estado permanente de missão a partir de uma conversão pessoal e pastoral. Agora, cabe às dioceses a operacionalização deste projeto, ancoradas nas Diretrizes e no Documento de Aparecida.

É neste contexto que se celebra no próximo domingo, dia 19, o Dia Mundial das Missões, instituído por Pio XI em 1926 com o objetivo de estimular a consciência missionária dos cristãos. Em sua mensagem para este ano, o papa Bento XVI se inspira no apóstolo Paulo e conclama todos os cristãos a serem “Servos e apóstolos de Jesus Cristo”. Lido com profundidade, o tema vai na mesma direção do que propõe a Missão Continental da América Latina, ou seja, fazer com que todos se tornem discípulos-missionários de Jesus Cristo.

Diante de uma realidade que traz como marca a “violência, a pobreza, as perseguições raciais, culturais e religiosas”, entre outras coisas, o papa Bento XVI questiona se há futuro para a humanidade. Ele mesmo responde: “Cristo é o nosso futuro”. A partir desta constatação, insiste que cada batizado se torne anunciador de Jesus Cristo. “Anunciar Cristo e a sua mensagem salvífica constitui um dever premente para todos”, afirma o Pontífice.

Ele mostra sua preocupação com as Igrejas jovens que carecem de missionários. Mesmo reconhecendo a escassez de padres para a missão, lembra que cabe aos bispos, além de ir ao encontro dos afastados, “tornar missionária toda a comunidade diocesana, contribuindo de bom grado, em conformidade com as possibilidades, para destinar presbíteros e leigos a outras Igrejas, para o serviço da evangelização”.

O papa aponta aqui um detalhe interessante: o compromisso com a missão universal. Nem mesmo a carência de evangelizadores deve eximir as dioceses de se comprometerem com as regiões que carecem de missionários. Isto nos faz pensar, portanto, que a missão deve nos fazer ver para além de nossas divisas. Outra coisa não se deve esperar da Missão Continental e, portanto, do projeto Brasil na Missão Continental. As dioceses, portanto, protagonistas desta missão, devem ter este aspecto bem claro ao elaborarem seus planos de pastoral na perspectiva da missão.

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