quinta-feira, 20 de março de 2008

“Vocês compreenderam o que eu fiz?”

Pe. Geraldo Martins
Esta pergunta foi feita por Jesus aos seus discípulos logo após lavar-lhes os pés durante a última ceia, na quinta-feira, véspera de sua paixão e morte. Jesus quis saber se seus apóstolos haviam compreendido a extensão e a profundidade de seu gesto, próprio dos servos e nunca do Senhor. Imagino que, naquele momento, tomados pelo espanto, nada compreenderam. Estivéssemos nós em seu lugar, compreenderíamos?
É interessante perceber que com esse gesto nasce a Eucaristia e também o ministério ordenado na Igreja. Antes de tomar a refeição, Jesus, o mestre, pega uma toalha e lava os pés dos discípulos. O gesto nos remete ao significado destes dois sacramentos, compreensíveis somente na ótica do serviço que tem como base o amor. Não pode sentar-se à mesa e partilhar a ceia quem, antes, não estiver disposto a lavar os pés dos demais. “Se eu que sou Mestre e Senhor lhes lavei os pés, vocês devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13, 14).
Uma sociedade caracterizada pelo mercado e pelo lucro dificilmente compreenderá o gesto de Jesus, prolongado nas ações de seus discípulos quando se colocam na defesa da vida dos pobres e excluídos. Transcendendo à compreensão dos que têm olhos apenas para o efêmero, os gestos de solidariedade com os empobrecidos soam a todos como a pergunta de Jesus: “Vocês compreenderam o que eu fiz?”. Quem não compreende, repreende e condena, às vezes, até com intolerância.
Assim, os que acolhem e servem os moradores de rua; os que gastam seu tempo visitando e ouvindo os presidiários em seu mundo subumano; os que consomem sua vida para dar vida aos aidéticos; os jurados de morte por causa da defesa dos direitos dos indígenas e das populações ribeirinhas; os militantes dos direitos humanos, injustamente acusados de defender marginais e tantos outros são um sinal de que o “lava-pés” continua. A lição de Jesus não foi em vão!

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