sábado, 29 de março de 2008

Realidade e evangelização

Pe. Geraldo Martins


Está tudo pronto para a 46ª Assembléia Geral da CNBB que começa no dia 2 de abril e se estende até o dia 11. O contexto em que se realiza é marcado pela expectativa das novas Diretrizes da Ação Evangelizadora para a Igreja do Brasil que terão como fontes inspiradoras, além das Diretrizes anteriores, o Documento de Aparecida e a atual conjuntura eclesial e social.

O cenário político-social, sob o qual se dá a Assembléia dos Bispos, apresenta questões que tocam de perto a Igreja. Comecemos pela votação, pelo Supremo Tribunal Federal, sobre o uso de células-tronco embrionárias, aguardada para abril por causa do pedido de vistas do ministro Menezes Direito, no dia 5 de março. Esse tema tem sido pauta permanente da imprensa, mas de maneira claramente tendenciosa ainda que firmem ouvir todos os lados.

Outra questão que marca o cenário político de nosso país é o clima eleitoral por causa das eleições municipais do fim de ano. Cartão Corporativo, Medidas Provisórias, PAC disso e daquilo, epidemia da dengue no Rio, tudo isso são ingredientes dos debates políticos cada vez mais presentes na mídia. Acrescentem-se, ainda, para delírio de uns e constrangimento de outros, as pesquisas do Ibope apontando altos índices de aprovação do Governo Lula. Há também as do IBGE que, se por um lado mostram fraquezas como a insuficiente redução do trabalho infantil, por outro lado indicam que o Bolsa Família vai bem, obrigado, com a ascensão dos mais pobres ao mercado de consumo, mesmo que nem todos gastem os recursos recebidos do Governo com alimento.

Ao longo de sua história, a CNBB, em seus documentos, sempre traduziu a verdade de que a evangelização só se dá eficazmente se levar em consideração a pessoa humana no seu todo, com tudo que a envolve. Por isso, a necessidade de conhecer bem a realidade na qual está inserida e os conflitos que têm incidência na vida humana, sejam de que ordem for.

Nos últimos tempos, ganha espaço cada vez maior o discurso de que o Estado é laico. Todos falam isso: políticos, intelectuais, formadores de opinião, a mídia. Alguém contesta isso? Ninguém, nem a Igreja. Ocorre, entretanto, que por trás desse discurso, o que muitos querem é tirar das Igrejas seu direito de se pronunciarem acerca de determinados temas que, na opinião daqueles, fogem da alçada das religiões.

Diante disso, o que se deve esperar da 46ª Assembléia da CNBB é que as novas Diretrizes a serem aprovadas pelos bispos levem a uma evangelização que se concretiza no compromisso com a promoção humana, levando os cristãos a uma inserção na sociedade a fim de ser aí um agente transformador. Não queremos uma evangelização alienada ou alienante, mas encarnada e que considere, sobretudo, a realidade dos pobres e excluídos.

É claro que não basta a CNBB produzir um bom documento contendo as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora. Se não houver, posteriormente, abertura das dioceses, das paróquias e das comunidades para fazer dele a referência de seu plano de pastoral, não só se comprometerá a unidade como também a comunhão eclesial, garantia de força e da eficácia da evangelização. Portanto, nem tudo depende da CNBB.

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