Estamos em Itaici, município de Indaiatuba, interior de São Paulo, na aconchegante casa de retiros Vila Kostica. Somos 450 padres de todo o Brasil reunidos desde o dia 13, no 12º Encontro Nacional de Presbíteros, discutindo o ministério dos padres a partir de sua responsabilidade de levarem as pessoas a conhecerem Jesus Cristo e a Ele aderirem. O pano de fundo das reflexões são as conclusões da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, realizada em maio do ano passado, em Aparecida (SP).
Alguns aspectos me chamam a atenção no encontro. Em primeiro lugar, a diversidade de experiências que cada um dos padres carrega consigo. Nem é possível mensurar a riqueza cultural e pastoral desse contingente de evangelizadores. Tem razão o cardeal Hummes ao afirmar, diante dos participantes do 12º ENP, que os padres é que “carregam nos ombros” a vida eclesial “quotidianamente” e que a “Igreja deve muitíssimo” a eles.
Na esteira das reflexões feitas pelos assessores, chama-me a atenção o idealismo de alguns padres que, com seu compromisso e testemunho de amor e serviço aos pobres e excluídos, interpelam a Igreja e suas estruturas sem, contudo, deixar de lhe ser fiel. Enquanto for assim, sem dúvida, é possível continuar sonhando com uma Igreja que não se acomoda, mas que busca aperfeiçoar-se e tornar-se, cada vez mais, caminho que leva ao Reino.
Um terceiro aspecto que ressalto no ENP é a presença do padre casado Armando Holocheski. Juntamente com sua esposa Altiva Holocheski, ele representou o Movimento dos Padres Casados e testemunhou ter se sentido muito bem acolhido pelos padres. Não é a primeira vez que um representante dos padres casados participa de um ENP. Isso é altamente significativo, sobretudo, se considerarmos que, em Aparecida, os bispos latino-americanos e caribenhos orientam as dioceses a estabelecerem “relações de fraternidade e mútua colaboração” com os padres que abandonaram o ministério (cf. DA 200). No Brasil, os padres casados são, aproximadamente, quatro mil.
Há, ainda, um gesto de grande significado e alcance. Trata-se da solidariedade traduzida no rateio para o pagamento das passagens dos participantes. O rateio é feito de tal maneira que alguém que veio de Roraima, por exemplo, paga o mesmo valor de que quem veio de Campinas que fica a poucos quilômetros de Itaici. Sem essa partilha muitos padres não participariam do ENP porque lhes seria demasiado oneroso.
Um último detalhe que destacaria vem dos bastidores. Diz respeito à reunião da Associação Nacional de Presbíteros do Brasil (ANPB). Certamente, muita gente nem sabe que os padres têm uma associação. Pois têm e não é nova. Criada em 1992, congrega mais de mil padres e acaba de fixar sua sede em Brasília. Seu objetivo é “promover, assistir, ajudar e defender os Presbíteros do Brasil”.
Muitos outros detalhes poderiam ser declinados considerando a magnitude do evento. Aqui foram vividos intensos momentos de estudo, espiritualidade, confraternização e, porque não dizer, também de reivindicações e questionamentos. Poderia lembrar, ainda, a presença fraterna e quase escondida de alguns bispos num respeito profundo à assembléia específica dos presbíteros. No entanto, os enumerados acima são suficientes para dar a conhecer um pouco do muito que foi o ENP.
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