segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Detalhes do ENP

Pe. Geraldo Martins



Estamos em Itaici, município de Indaiatuba, interior de São Paulo, na aconchegante casa de retiros Vila Kostica. Somos 450 padres de todo o Brasil reunidos desde o dia 13, no 12º Encontro Nacional de Presbíteros, discutindo o ministério dos padres a partir de sua responsabilidade de levarem as pessoas a conhecerem Jesus Cristo e a Ele aderirem. O pano de fundo das reflexões são as conclusões da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, realizada em maio do ano passado, em Aparecida (SP).

Alguns aspectos me chamam a atenção no encontro. Em primeiro lugar, a diversidade de experiências que cada um dos padres carrega consigo. Nem é possível mensurar a riqueza cultural e pastoral desse contingente de evangelizadores. Tem razão o cardeal Hummes ao afirmar, diante dos participantes do 12º ENP, que os padres é que “carregam nos ombros” a vida eclesial “quotidianamente” e que a “Igreja deve muitíssimo” a eles.

Na esteira das reflexões feitas pelos assessores, chama-me a atenção o idealismo de alguns padres que, com seu compromisso e testemunho de amor e serviço aos pobres e excluídos, interpelam a Igreja e suas estruturas sem, contudo, deixar de lhe ser fiel. Enquanto for assim, sem dúvida, é possível continuar sonhando com uma Igreja que não se acomoda, mas que busca aperfeiçoar-se e tornar-se, cada vez mais, caminho que leva ao Reino.

Um terceiro aspecto que ressalto no ENP é a presença do padre casado Armando Holocheski. Juntamente com sua esposa Altiva Holocheski, ele representou o Movimento dos Padres Casados e testemunhou ter se sentido muito bem acolhido pelos padres. Não é a primeira vez que um representante dos padres casados participa de um ENP. Isso é altamente significativo, sobretudo, se considerarmos que, em Aparecida, os bispos latino-americanos e caribenhos orientam as dioceses a estabelecerem “relações de fraternidade e mútua colaboração” com os padres que abandonaram o ministério (cf. DA 200). No Brasil, os padres casados são, aproximadamente, quatro mil.

Há, ainda, um gesto de grande significado e alcance. Trata-se da solidariedade traduzida no rateio para o pagamento das passagens dos participantes. O rateio é feito de tal maneira que alguém que veio de Roraima, por exemplo, paga o mesmo valor de que quem veio de Campinas que fica a poucos quilômetros de Itaici. Sem essa partilha muitos padres não participariam do ENP porque lhes seria demasiado oneroso.

Um último detalhe que destacaria vem dos bastidores. Diz respeito à reunião da Associação Nacional de Presbíteros do Brasil (ANPB). Certamente, muita gente nem sabe que os padres têm uma associação. Pois têm e não é nova. Criada em 1992, congrega mais de mil padres e acaba de fixar sua sede em Brasília. Seu objetivo é “promover, assistir, ajudar e defender os Presbíteros do Brasil”.

Muitos outros detalhes poderiam ser declinados considerando a magnitude do evento. Aqui foram vividos intensos momentos de estudo, espiritualidade, confraternização e, porque não dizer, também de reivindicações e questionamentos. Poderia lembrar, ainda, a presença fraterna e quase escondida de alguns bispos num respeito profundo à assembléia específica dos presbíteros. No entanto, os enumerados acima são suficientes para dar a conhecer um pouco do muito que foi o ENP.

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