domingo, 10 de fevereiro de 2008

Presbíteros do Brasil

Pe. Geraldo Martins
Na próxima quarta-feira, dia 13, pouco mais de 400 padres, representando as 9.600 paróquias das 268 dioceses do Brasil, iniciam o 12º Encontro Nacional de Presbíteros (ENP), em Itaici, Indaiatuba, SP. Esse número representa 2,2% dos cerca de 18 mil padres do maior país católico do mundo. O encontro, realizado a cada dois anos desde 1985, se torna um espaço privilegiado de troca de experiências e, ao mesmo tempo,de debate sobre o que desafia o presbítero em sua missão evangelizadora, na perspectiva de construir o Reino de Deus que começa no hoje de nossa história. É um esforço, também, de organizar e articular os presbíteros do Brasil nas suas diferenças e diversidade, sempre em comunhão com os bispos, pastores de nossas Igrejas Particulares.
O 12º ENP se propõe a discutir o presbítero como discípulo e missionário de Jesus Cristo na América Latina sob a luz do Documento de Aparecida. O texto preparatório, elaborado pelo padre José Oscar Beozzo antes da realização da Conferência de Aparecida em maio do ano passado, é provocativo ao fazer uma retomada histórica da figura dos presbíteros nas Conferências do Episcopado Latino-americano tendo como base as grandes opções feitas pela Igreja da América Latina e do Caribe a partir de Medellín (1968). Beozzo ajuda os presbíteros a olharem o caminho percorrido, fazendo-os perceber se têm mantido ou não na direção delineada por estas Conferências.
O Documento de Aparecida[1] apresenta alguns desafios relativos à identidade e à missão dos presbíteros que, na verdade, nem são novos. O primeiro deles refere-se à identidade teológica de seu ministério e o segundo aponta para a cultura atual na qual estão inseridos os presbíteros. Já o terceiro, que sempre vem à tona, diz respeito à vida afetiva do presbítero, incluindo o celibato, reafirmado como “dom de Deus”.
Há, ainda, outros desafios de caráter estrutural como a extensão e a pobreza de muitas paróquias. Também a violência de determinadas regiões dificulta o trabalho do presbítero. Outra questão considerada por Aparecida são o reduzido número dos padres e a sua má distribuição, fazendo com que muitas comunidades fiquem privadas de seu direito à celebração do mistério pascal no Dia do Senhor. Aliás, sobre isso há interessantes propostas mas que não foram consideradas por Aparecida. Algumas apareceram na síntese que a Igreja do Brasil enviou para a V Conferência. Entrariam no debate dos presbíteros?
Por outro lado, o Documento como que traça o perfil do presbítero que as comunidades reclamam hoje. Eles têm que ser “presbíteros-discípulos” com “profunda experiência de Deus”; “presbíteros-missionários” movidos “pela caridade pastoral” e “presbíteros-servidores” sendo “atentos às necessidades dos mais pobres”.
Ao longo do Documento, aparecem outras questões que também desafiam os presbíteros. Há, ainda, os desafios que são específicos de nossa Igreja no Brasil e que não aparecem no Documento. Certamente, serão postos à mesa para uma reflexão séria e profunda dos participantes do ENP. Tudo no respeito à comunhão eclesial que se faz na diversidade sem comprometer a unidade, característica dos ENPs.
Os presbíteros, responsáveis diretos pela Igreja das bases juntamente com as lideranças de nossas comunidades, têm muito a contribuir neste esforço de traduzir as grandes opções de Aparecida que retoma a proposta de uma Igreja do Vaticano II em que sobressaem a centralidade da Palavra de Deus e da Eucaristia, a ênfase na missão, a opção pelos pobres, a retomada das CEBs e a valorização dos leigos e leigas. Tudo isso levando em conta a "mudança de época" que caracteriza nossos tempos e reconhecendo o muito que os presbíteros já fazem pelo Evangelho e pela Igreja neste país de dimensões continentais.
[1] Cf. Documento de Aparecida, nn. 191-200

Nenhum comentário: