terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Uma questão de opção

Pe. Geraldo Martins
“Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais!”. Bem que esta frase, tirada de uma canção outrora muito cantada em nossas celebrações, também poderia servir de inspiração e motivação para o debate da próxima Campanha da Fraternidade a ser lançada pela CNBB na Quarta-feira de Cinzas, dia 6 de fevereiro. Pensar na vida em toda a sua amplitude, tendo a vida humana como centro a partir do qual tudo mais ganha valor e sentido, fará da CF um momento ímpar de reflexão sobre as inúmeras situações e circunstâncias que ameaçam a vida. Aqui, então, poderíamos pensar desde a natureza destruída por causa dos interesses econômicos, com fortes impactos em nossa vida, até as ausentes políticas públicas, causa das realidades subumanas que contrastam com o sonho do Criador de um mundo aprazível no qual seja prazeroso viver.

Com razão, a Campanha da CNBB em defesa da vida deixa claro tratar-se da vida humana, forte e inescrupulosamente ameaçada por contra-valores travestidos de valores que enganam e matam. No entanto, precisamos ficar atentos para não reduzir a luta em defesa da vida ao urgente e necessário combate ao aborto e à eutanásia, como se a CF quisesse tratar apenas destas duas formas de atentando contra a vida humana. O compromisso com a vida é muito mais amplo e o texto-base deixa isso claro quando chama nossa atenção para as várias situações de morte que tornam vulnerável a vida humana, como, por exemplo, o desrespeito à ecologia, a degradação do meio ambiente, a pobreza, a miséria, o submundo das prisões, a violência etc.

É interessante observar que, nesse aspecto, a mídia pode ajudar tanto a ampliar quanto a reduzir nosso olhar sobre os objetivos da CF na medida em que coloca todos os temas abordados pelo texto-base da Campanha ou os reduz à questão do aborto, acrescido da posição da Igreja em relação aos métodos contraceptivos. Os objetivos da CF são muito mais amplos e querem nos levar a uma verdadeira conversão à vida. Nesse particular, caberá, também à Igreja, saber pautar a imprensa a fim de que esta seja parceira na nobre e irrenunciável tarefa de defender a vida na amplitude que as circunstâncias o exigem.

O objetivo geral mostra bem o horizonte que se quer alcançar com a Campanha. “Levar a Igreja e a sociedade a defender e a promover a vida humana, desde a sua concepção até a sua morte natural, compreendida como dom de Deus e co-responsabilidade de todos, na busca de sua plenificação, a partir da beleza e do sentido da vida, em todas as circunstâncias, e do compromisso ético do amor fraterno”.

Observe-se que, entre a concepção e a morte natural, há um caminho a ser percorrido pela vida, cuja extensão não podemos mensurar. Não podemos esquecer esse caminho onde a vida é fortemente ameaçada. Do contrário, o objetivo da CF não terá sido plenamente observado. A Campanha exigirá, portanto, ações concretas em todos os níveis - pessoal, comunitário, político e econômico - a fim de que as estruturas de morte sejam definitivamente banidas de nossa sociedade. Tratar-se-á, no fundo, de uma questão de opção como lembra o livro do Deuteronômio: “Eu lhes propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver” (Dt 30,19). A proposta, quem faz é Deus. A escolha, no entanto, é de cada um.

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