segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Combate à intolerância religiosa

Pe. Geraldo Martins
No Brasil, existe intolerância religiosa? É provável que muita gente, irrefletidamente, afirme que não. Outras pessoas, antes de responderem, talvez perguntem o que, realmente, caracteriza intolerância religiosa. Algumas, contudo, dirão que há, sim, intolerância religiosa no país e apresentarão fatos para provar o que afirmam.
O debate sobre a intolerância religiosa é suscitado pela data que se comemora hoje, pela primeira vez: Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Instituída pela Lei 11.635, sancionada pelo presidente Lula no dia 27 de dezembro de 2007, a data será lembrada com um evento, em Brasília, organizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH) em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Ministério da Cultura.
Se entendermos por intolerância religiosa apenas os conflitos religiosos que ocorrem em alguns países, como vemos nos noticiários das TVs e nos jornais, afirmaremos que o Brasil é um país onde as religiões convivem de maneira harmoniosa e pacífica e que nele não existe a prática da intolerância. No entanto, é preciso cuidado, porque existem muitas atitudes que, bem analisadas, provam o contrário.
Em 2003, a SEDH publicou uma cartilha na qual ensina que invadir terreiros; desrespeitar a espiritualidade dos povos indígenas ou tentar impor a eles a visão de que sua religião é falsa; agredir ciganos devido à sua etnia ou crença é intolerância.
Segundo o monge beneditino, padre Marcelo Barros, “a escolha do dia 21 de janeiro para esta data de combate à intolerância religiosa não foi por acaso. No dia 21 de janeiro de 2000, no Rio de Janeiro, morreu a Mãe Gilda de Ogum. Ela teve um enfarte fulminante quando viu crentes que se consideram evangélicos invadirem e destruírem a sua casa de culto (Abassá de Ogum)”.

Barros lembra alguns fatos, ocorridos no Brasil, que caracterizam sua intolerância religiosa. “Embora os meios de comunicação quase não publicam, ainda proliferam no Brasil, aqui e ali, alguns conflitos violentos entre membros de determinadas Igrejas e outras confissões religiosas. Em Campina Grande (PB), já há quase 20 anos, acontece um "Encontro da Nova Consciência" que reúne pessoas de várias tradições espirituais comprometidas com a paz. Há alguns anos, crentes de algumas confissões cristãs organizaram ao lado um encontro paralelo: "Encontro da Nova Consciência com Cristo" que não admite pessoas que não sejam de suas Igrejas. Estes fazem manifestações com som alto, justamente quando os religiosos das diversas tradições se unem para orar pela paz. No ano passado, crentes deste grupo fundamentalista invadiram a celebração ecumênica feita pelos outros religiosos para impedir que os Hare-krisna cantassem seus mantras e expulsar o demônio dos adeptos da Umbanda e do Candomblé. Eu e vários irmãos tivemos de atuar para impedir um confronto e para responder à revolta das pessoas agredidas que abriram um processo judicial contra os agressores”.
Chamam atenção, também, algumas pregações religiosas que, em nome de defender os princípios da própria Igreja, desrespeitam os de outras numa autêntica demonstração de intolerância e desrespeito à verdade do outro. Tais atitudes são regadas por inexplicáveis fundamentalismos e sectarismos que impedem qualquer possibilidade de diálogo e de convivência harmoniosa entre os diferentes.
Diante disso, faz sentido chamar a atenção para essa realidade desconhecida pela maioria da população brasileira. Urge educar a humanidade para o convívio respeitoso na diferença, cultural e religiosa, que caracteriza a pluralidade de povos e etnias. Em se tratando da religião cristã, tal propósito vem ao encontro ideal cristão de “que todos sejam um” (Jo 17,21).

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