quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dízimo: gratidão a Deus e compromisso com a comunidade

Pe. Geraldo Martins

Em nossa arquidiocese de Mariana, o mês de novembro é dedicado ao aprofundamento e à reflexão sobre o Dízimo. Desde 1992, nossa arquidiocese adotou o Dízimo como prática prioritária para a manutenção da evangelização nas paróquias e comunidades. Aboliram-se, então, todas as taxas que eram fixadas para os sacramentos (batismo, crisma, matrimônio), as missas e documentos solicitados nos escritórios paroquiais como certidão de batismo e de casamento.

O dízimo é uma prática antiga do Povo de Israel como vemos em Gn 14,18-20 que mostraAbrão dando a Melquisedec “a décima parte de tudo”. Já Deuteronômio (26, 12-13) fala não só do dízimo, mas também a quem é destinado: “A cada três anos, no ano dos dízimos, quando você tiver acabado de separar todo o dízimo de sua colheita e o tiver dado ao levita, ao migrante, ao órfão e à viúva, para que eles comam dentro das portas de sua cidade até ficarem satisfeitos, assim falará diante de Javé, seu Deus”. Outra passagem muita clara sobre o dízimo é a de Malaquias 3,10: “tragam o dízimo completo para o cofre do Templo, para que haja alimento em meu Templo. Façam essa experiência comigo, diz Javé dos exércitos. Vocês hão de ver, então, se não abro as comportas do céu, se não derramo sobre vocês minhas bênçãos de fartura”.

O novo testamento não fala do dízimoAs poucas vezes que o menciona é em Mateus (23,23)e Lucas (11,42), quando Jesus diz que não se pode dar o dízimo e deixar de praticar a justiça. Em Lucas (18,12), Jesus censura a oração do fariseu que se julgava justo por praticar a lei, inclusive o dízimo, mas tinha o coração tomado pela presunção de se achar melhor que os outros. A carta aosHebreus (7,4-10) recorda o dízimo pago por Abraão a Melquisedec.

O mais comum no Novo Testamento é prática da partilha. O livro dos Atos dos Apóstolos mostra isso de maneira exemplar ao registrar que os cristãos “eram unidos e tinham tudo em comum” (At 2,44) e que eles “vendiam suas propriedades e bens, e os repartiam entre todos, conforme a necessidade de cada um” (At 2,45). O mesmo se pode ler em At 4,32-37. São Paulo também fala muitas vezes sobre a necessidade da solidariedade e da partilha entre os cristãos e diz na segunda carta aos Coríntios: “cada um dê como decidir em seu coração, não com desgosto ou por pressão, pois Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7).

Ofertar o dízimo é gesto de reconhecimento de que tudo o que temos vem de Deus. É também agradecimento sincero por essa gratuidade de Deus que nos faz ricos na pobreza. A CNBB nos ensina que “o dízimo deve ser compreendido como partilha, fruto da generosidade, colocado a serviço da própria comunidade eclesial local. É diferenciado de outras ofertas ou coletas”. Torna-se, portanto, compromisso com a comunidade.

É bonito ver que, em nossa arquidiocese, cada vez menos as paróquias se preocupam e se desgastam em fazer festas para arrecadar fundos para suas obras. Sonhamos com o dia em que o dízimo, dado de maneira consciente e generosa, seja suficiente para assistir os pobres da comunidade e sustentar a evangelização com tudo que isso implica.

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