segunda-feira, 22 de julho de 2013

O novo na JMJ


Pe. Geraldo Martins Dias

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se realiza esta semana no Rio de Janeiro, destaca-se em relação às anteriores especialmente pela presença do papa Francisco que, por seus gestos e palavras, tem surpreendido o mundo.  É sua primeira viagem internacional com apenas quatro meses de pontificado. É grande a expectativa quanto às improvisações que protagonizará, com quebras de protocolo, mas também com relação aos seus discursos. 

Um olhar atento à organização e à programação deste megaevento católico revela como o primeiro papa latino-americano concebe a Jornada. A inclusão, por exemplo, de uma visita ao Santuário de Aparecida, onde esteve em 2007 para a Conferência do Episcopado Latino-americano, atende a um pedido de Francisco e se constitui numa evidente quebra de protocolo das JMJs. O costume é o papa se ater exclusivamente à programação da Jornada na cidade que a acolhe. Francisco fez questão de ir rezar aos pés de Nossa Senhora Aparecida, a mais querida dos brasileiros, e a ela confiar seu pontificado. “Vós, ó Mãe, não hesitastes, e eu não posso hesitar”, rezará diante da imagem da padroeira do Brasil antes de presidir a missa no Santuário Nacional. Um gesto pra lá de eloquente!

No Rio de Janeiro, outros gestos do primeiro papa jesuíta-franciscano darão sentido novo aos atos centrais da Jornada. O primeiro deles é a visita a jovens que se recuperam da dependência química no Hospital São Francisco de Assis. Este encontro, por um lado, traduz a acolhida aos dependentes e o voto de confiança na sua capacidade de superação a partir da fé e da solidariedade humana. Por outro lado, significa também uma denúncia tanto ao tráfico de drogas quanto à falta de política eficaz no combate a essa chaga que corrói nossa sociedade e ameaça de morte milhares de jovens. Lição para a JMJ: é preciso amparar o jovem que caiu nas garras da dependência química e apostar na sua plena recuperação. Um convite para que a Igreja seja mais samaritana!

O papa estará, também, em Varginha, comunidade da periferia carioca, que fica no complexo de Manguinhos. A periferia é, normalmente, o lugar das pessoas que, excluídas das benesses dos grandes centros, dão uma lição de como resistir às barreiras postas pelo sistema neodesenvolvimentista vigente no mundo. Com esta agenda o papa coloca em prática as palavras que tem repetido exaustivamente: é preciso sair e ir ao encontro das periferias da existência. Outra lição para a Jornada e toda a Igreja: romper com a comodidade, assumir os riscos e ir ao encontro dos mais pobres. Cuidar da periferia!

O terceiro compromisso do papa que foge do comum das JMJs é seu encontro com jovens detentos, na residência do arcebispo do Rio. Esse contado mostrará a Francisco os efeitos da falta de políticas públicas para a juventude brasileira. A deliquencia juvenil, bem menor do que querem fazer crer a mídia e os defensores da redução da idade penal, é fruto, muitas vezes, da perda do horizonte e do sentido da vida.  Como seria alentador ouvir do papa uma palavra contundente contra a violência que vitima nossos jovens! Nova lição para a JMJ: urge ajudar o jovem a se reencontrar a fim de que não se renda à violência nem caia no submundo da prisão de onde dificilmente sairá recuperado. 

Um quarto compromisso que entrou na agenda do papa, por seu desejo expresso, é o encontro exclusivo com o episcopado brasileiro. Não há como classificar tamanha deferência. Será uma oportunidade de Francisco ouvir a rica experiência evangelizadora da Igreja no Brasil, seus temores, anseios e esperança. Mas será ocasião também de o papa apresentar aos bispos do Brasil os novos rumos que deseja para a Igreja. Trata-se, portanto, de um encontro de irmãos – um pastor falando a pastores-irmãos! Experiência de colegialidade tão cara ao Concílio Vaticano II. 

O papa Francisco inova não apenas na programação da JMJ. A recusa a privilégios - aeronave de luxo com cama para a viagem, quarto especial na casa em que ficará hospedado no Rio, carro blindado – não deixa dúvida sobre o caminho que quer indicar à Igreja: o da simplicidade e da pobreza, o da identificação com o povo! Esta é a mais forte mensagem que já está posta para a JMJ e que se confirmará nos discursos que fará durante o evento.

É claro que a presença do papa em qualquer país tem também uma dimensão política. Aqui não será diferente. As manifestações que sacudiram o Brasil em junho ganharam repercussões mundiais. Elas dão novo ingrediente à JMJ e encontrarão eco nos discursos do papa, quer nos encontros que terá com autoridades políticas, quer na mensagem que dirigirá aos jovens. Nessa hora, que ele seja um pastor-profeta! Que suas  palavras irradiem luz para iluminar caminhos e inspirar consciências dos que têm a responsabilidade de construir uma sociedade justa e fraterna, solidificada na paz e na solidariedade! 

Um comentário:

Anônimo disse...

Verdade mano, também fiquei encantada com a sua humildade. Quando o vi tomando chimarrão no meio da rua confiante que era um gesto de carinho de um dos jovens do JMJ... demais! Que Deus continue abençoando e dando-lhe sabedoria para ajudar a iluminar este mundo.