segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Nova evangelização, um apelo dos tempos atuais


Pe. Geraldo Martins Dias

Desde que assumiu o pontificado, o papa Bento XVI tem mostrado grande preocupação com a secularização e o relativismo que acabam por levar a um enfraquecimento da fé. Ele não esconde essa preocupação, especialmente, em relação ao velho continente, que experimenta uma descristianização como nunca se viu na história.

Esta preocupação não é nova e já havia sido manifestada por seus antecessores. Paulo VI, por exemplo, fala da necessidade de intensificar a evangelização por causa das “situações de descristianização frequentes nos nossos dias” (EN 52). João Paulo II, na Exortação Apostólica Christifideles Laici (1988), constata: “Países inteiros e nações, onde a religião e a vida cristã foram em tempos tão prósperas e capazes de dar origem a comunidades de fé viva e operosa, encontram-se hoje sujeitos a dura prova, e, por vezes, até são radicalmente transformados pela contínua difusão do indiferentismo, do secularismo e do ateísmo. É o caso, em especial, dos países e das nações do chamado Primeiro Mundo, onde o bem-estar econômico e o consumismo, embora à mistura com tremendas situações de pobreza e de miséria, inspiram e permitem viver como se Deus não existisse”.  

Diante disso, a saída proposta por Bento XVI é uma nova evangelização, conforme afirmou ao criar, há dois anos, o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização: “Só uma nova evangelização poderá garantir o crescimento de uma fé límpida e profunda, capaz de converter tais tradições (de piedade e de religiosidade popular cristã ainda presentes em muitas nações) numa força de liberdade autêntica”. 

Este é o contexto que cobre o Sínodo dos Bispos, que começou em Roma na semana passada (7/10) e se estende até o próximo dia 28. De acordo com o papa a nova evangelização objetiva ajudar as pessoas a terem um novo encontro com Jesus e a redescobrirem a fé. Este tema do “encontro pessoal com Jesus Cristo” aparece como um dos preferidos de Bento XVI. Dito exaustivamente em vários de seus textos, sustenta-se na afirmação que fez na Encíclica Deus Caritas Est: “No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e com isto a orientação decisiva”. 

Com o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”, o Sínodo jogará luzes sobre o Ano da Fé, convocado e aberto pelo papa na última quinta-feira (11/10), bem como sobre as comemorações dos 50 anos do Concílio Vaticano II, que também já começaram. Aliás, o Ano da Fé não é uma novidade na Igreja. Ele foi realizado pela primeira vez em 1967, convocado pelo papa Paulo VI. “Se a Igreja hoje propõe um novo Ano da fé e a nova evangelização, não é para prestar honras a uma efeméride, mas porque é necessário, ainda mais do que há 50 anos!”, disse Bento XVI na missa que abriu o Ano da Fé. Para ele, vivemos hoje uma desertificação espiritual. 

A nova evangelização se torna, assim, um apelo dos tempos atuais, que deve envolver todos os membros da Igreja. Mas, por onde passa a nova evangelização? 

O instrumento de trabalho do sínodo apresenta vários cenários que desafiam a Igreja naquilo que é a razão de sua existência: a missão. Nova evangelização significa a capacidade de a Igreja viver, de forma renovada, a fé no mundo com as mudanças que ele apresenta. Mudanças no campo cultural, econômico, político, tecnológico, religioso, da comunicação.   E que mudanças! Para responder aos desafios postos por essas mudanças, a evangelização precisa ser nova no seu ardor, nos seus métodos e nas suas expressões, como já ensinava João Paulo II há quase 30 anos, em discurso à Assembleia do CELAM. 

Um dos caminhos para alcançar esta meta é a busca obstinada da “conversão pastoral”, como recorda o Documento de Aparecida. Isso implicará em revisão profunda não só do “ardor, métodos e expressões” que temos empenhado na evangelização, mas também nas estruturas que a sustentam. Para que isso aconteça, duas coisas serão imprescindíveis: criatividade e ousadia.  

Além disso, será necessário chamar cada batizado à sua responsabilidade de discípulo-missionário, com ênfase especial, nos cristãos leigos e leigas. A eles, por vocação própria, são confiados os mais variados ministérios, fortalecendo a comunhão e participação, característica da Igreja de Cristo que caminha para o Reino. Enquanto os leigos não saírem de sua situação de suplência, dificilmente acontecerá a conversão pastoral e a nova evangelização ficará comprometida. Uma releitura do Concílio Vaticano II, à luz das comemorações de seus 50 anos, nos ajudará a perceber a melhor forma de tornar esse propósito uma realidade. 

A nova evangelização não deve ser movida por espírito proselitista ou fundamentalista, como se a Igreja estivesse disputando fiéis com outras Igrejas diante da evasão dos católicos. A ela compete, como bem assinala o instrumento de trabalho do Sínodo, “dar resposta adequada aos sinais dos tempos, às necessidades dos homens e dos povos de hoje, aos novos cenários que mostram a cultura por meio da qual exprimimos nossa identidade e procuramos o sentido de nossa existência”. Eis o nosso compromisso. Vamos a ele!

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