quinta-feira, 17 de maio de 2012

O resgate da memória e da verdade


Pe. Geraldo Martins Dias


O Brasil viveu na quarta-feira, 16 de maio, um dia histórico com a instalação da Comissão Nacional da Verdade, que tem a exigente e esperançosa tarefa de resgatar a memória e a verdade sobre os anos de chumbo vividos pelo país. A ela caberá entrar nos porões da ditatura com as lâmpadas acesas e deles tirar o que mantêm escondido, subtraindo a todos o direito de seu pleno conhecimento. 

Num discurso muito bem construído no ato de instalação da Comissão, a presidente Dilma não só definiu seu papel, como também reconheceu a criação da Comissão como iniciativa de Estado e não apenas ação de governo. Foi carregada de sentido, portanto, a presença dos ex-presidentes Sarney, Collor, FHC e Lula. E a presidente fez mais ao recordar também a memória do “Senhor Diretas” – Ulysses Guimarães, de Tancredo Neves e de Itamar Franco. 

Neste contexto, vale a pena reproduzir um trecho do discurso da presidente: “Tanto quanto abomina a violência e preza soluções negociadas para as suas crises, o Brasil certamente espera que seus representantes sejam capazes de se unir em torno de objetivos comuns, ainda que não abram mão, mesmo que mantenham opiniões divergentes sobre outros temas, o que é normal na vida democrática”.

Jamais permitir que o país caia nas garras do autoritarismo e reedite os horrores do que isso significou no passado é o objetivo comum de todos os brasileiros. Daí a necessidade do conhecimento pleno da verdade sobre o que aconteceu nesse período, mas sem revanchismo ou ódio, como assegurou a presidente. 

Ao discursar, Dilma citou Ulisses Guimarães e Galileu Galilei para falar da verdade. Do primeiro tomou emprestada a frase “A verdade não mereceria este nome se morresse quando censurada” e, do segundo, “A verdade é filha do tempo, não da autoridade”. 

Nesse momento, imaginei, bem que caberia também a citação de Jesus registrada por São João: “Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). A liberdade é o que buscamos. Ela está intimamente associada à verdade. “A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade e da possibilidade dum desenvolvimento humano integral”, escreve Bento XVI na encíclica Caritas in veritate.

Na mesma cerimônia, a presidente assinou a Lei de Acesso à Informação que permitirá a todo e qualquer cidadão conhecer os atos de governo e de estado através das tecnologias de informação. Como não associar a nova lei ao que diz São Lucas: “Não há nada de oculto que não venha a ser revelado, e não há nada de escondido que não venha a ser conhecido” (Lc 12,2)?! 

Tudo isso signifique o surgimento de um novo Brasil em que sejam consolidadas a democracia e a cidadania. O momento republicano vivido na instalação da Comissão da Verdade reafirme o compromisso de todos com o bem comum, expressão da verdadeira política que deve caracterizar uma grande nação.  

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