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Da esquerda para a direita: José Jairo Gomes, Marcelo Lavenère, Benjamim Zymler, Ricardo
Berzoini (presidente da CCJC), Pedro Henrique Braga, Nelson Calandra,
Júlio de Oliveira
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Pe. Geraldo Martins
Uma audiência pública realizada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados discutiu, na tarde desta terça-feira, 29, o Projeto de Lei Complementar (PLP 14/11), que altera a Lei da Ficha Limpa. Os seis debatedores convidados foram unânimes ao afirmar a inconstitucionalidade do Projeto, de autoria do deputado Sílvio Costa (PTB-PE).
A proposta estabelece que o governador, o prefeito ou servidor público que tiver suas contas rejeitadas por improbidade administrativa, em decisão irrecorrível de Tribunal de Contas, só se tornará inelegível depois que a decisão for confirmada em sentença definitiva de órgão judicial colegiado.
Para o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Benjamim Zymler, o PL não ajuda a modernizar o sistema e contradiz o sentimento popular manifestado na lei da Ficha Limpa. “Este projeto de lei, além de não estar afinado com o sentimento nacional, manifestado com a Ficha Limpa, afronta a finalidade da Constituição de criar os tribunais de conta”, explicou. Segundo o ministro, caso o projeto seja aprovado, haverá dúvida quanto à sua operacionalização.
O representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o advogado Marcelo Lavenère, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi enfático ao condenar o projeto. “Este PL vai na contramão da moralidade pública”, disse. “Ele protege o desonesto, o delinquente das finanças públicas”, acrescentou.
Lavenère defendeu a Lei da Ficha Limpa, resultado de projeto de iniciativa popular que coletou quase dois milhões de assinaturas. “Para mutilar uma lei de iniciativa popular, é preciso que fosse feito por meio de iniciativa popular”, observou o advogado.
Bastante exaltado, o deputado Silvio Costa defendeu o projeto de sua autoria e respondeu a Lavenère, dizendo não ser demagogo. Ele criticou de forma veemente o Supremo Tribunal Federal pela aprovação da Ficha Limpa, ressalvando os que votaram contra a constitucionalidade da lei. Dizendo-se “ficha limpíssima” e um “deputado corajoso”, Costa afirmou defender os interesses do povo e que a Ficha Limpa fere o princípio de presunção de inocência.
O representante do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Júlio de Oliveira, procurador do TCU, destacou que é o Tribunal de Contas “é até benevolente” na aprovação das contas dos prefeitos e que o PL em debate compromete a Ficha Limpa. “Se aprovado, vai aniquilar um dos pilares da Ficha Limpa, que são as ações de probidade administrativa”, acentuou.
De forma bastante técnica, o procurador da república da 1ª Região, José Jairo Gomes, apontou a inconstitucionalidade do projeto. “O PL transforma o judiciário em terceira instância de apreciação. O poder judiciário atua a partir da provocação da parte que se sente lesada”, explicou.
Na opinião do procurador, o PL aumenta a insegurança jurídica e leva à judicialização da política.
O deputado Efraim Filho (DEM-PB), autor do requerimento da audiência, destacou o “mérito inigualável” da Ficha Limpa. Já o relator do projeto, deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), lembrou que não é contrário à Ficha Limpa e que o projeto de Silvio Costa vem para reforçá-la. “Ainda não apresentei meu relatório. Se os senhores me convencerem do contrário, posso mudá-lo. Até agora não me convenceram”, afirmou.
Um comentário:
É um absurdo o que querem fazer com a Lei do Ficha Limpa. Esse é só um dos ataques que estão sendo preparados. Podemos preparar para muito mais.
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