terça-feira, 7 de junho de 2011

Voltar às origens

Pe. Geraldo Martins Dias

A divisão dos cristãos, configurada ao longo da história, constitui um escândalo que contradiz a fé cristã. O próprio Concílio Vaticano II, no decreto sobre o Ecumenismo (Unitatis Redintegratio), o reconhece ao afirmar: “Esta divisão [dos cristãos], sem dúvida, contradiz abertamente a vontade de Cristo e se constitui em escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda criatura”.

A superação desse escândalo se traduz na restauração da unidade dos cristãos. Com esse objetivo é que nasceu, há mais de um século, o movimento ecumênico cujo marco é a Conferência de Edimburgo, na Escócia, em 1910. Dois anos antes, a Igreja Episcopal Anglicana realizava a primeira celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em Graymoor, no Estado de Nova York, Estados Unidos. Um dos protagonistas desta iniciativa foi do anglicano Lewis Thomas Wattson, que depois se tornou católico.

A partir desta experiência, a Semana ganhou adesão e se tornou mundial. No hemisfério norte, é celebrada entre os dias 18 a 25 de janeiro, motivada pelas festas da Cátedra de São Pedro (dia 18) e de São Paulo (dia 25). Já no hemisfério sul, a Semana é realizada entre as festas da Ascensão de Jesus e Pentecostes. Para fortalecer ainda mais a comemoração da data, desde 1996, a Comissão Fé e Constituição, do Conselho Mundial de Igrejas, e o Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos elaboram um texto comum a ser usado em nível mundial, podendo ser adaptado de acordo com a realidade de cada país.

A unidade é um desejo do próprio Cristo quando rezou: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17,21). O caminho da unidade, no entanto, é exigente e requer a reta compreensão de seu significado. Exige, antes de tudo, respeito e abertura ao diferente e à diversidade, que são uma riqueza característica da humanidade.

Segundo o Vaticano II, “os anseios de unidade nascem e amadurecem da renovação da mente, da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade”. O Concílio coloca a oração, juntamente com a conversão interior e a santidade de vida, como a “alma de todo o movimento ecumênico”. Ao mesmo tempo, recorda que o Espírito Santo é quem realiza a comunhão dos fiéis “e une todos tão intimamente de Cristo, de modo a ser o princípio da unidade da Igreja”.

Um olhar retrospectivo nos fará ver que já se deram passos largos na direção do ecumenismo e, portanto, da unidade dos cristãos. É muito significativa, por exemplo, a CNBB, por três ocasiões (2000, 2005 e 2010), ter cedido ao Conic a organização e realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica. O mesmo se pode dizer da celebração ecumênica realizada nas assembleias gerais da CNBB com a presença de líderes de muitas igrejas cristãs. Há, ainda, inúmeras causas que unem cristãos de diversas igrejas como é o caso da defesa de direitos humanos e justiça social.

O ecumenismo, contudo, enfrenta inúmeros desafios. Aponto pelo menos dois. O primeiro é torná-lo parte do cotidiano das comunidades, isto é, fazer com que chegue às bases. A desejada unidade dos cristãos tardará quanto mais o ecumenismo se restringir às cúpulas das Igrejas. O segundo desafio é a prática do ecumenismo junto aos movimentos religiosos independentes, de cunho neopentecostal, cada vez mais crescentes.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano nos recorda, com seu tema - “Unidos no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” -, o ideal de toda comunidade cristã. Lembra a mensagem prepara para a ocasião: “Esse tema é um chamado à volta às origens da primeira Igreja em Jerusalém; é um chamado à inspiração e renovação, a uma volta ao essencial da fé; é um chamado a relembrar o tempo em que a Igreja ainda era uma”.

Que o Espírito Santo nos ajude a viver a Palavra, a comunhão fraterna, a eucaristia e a oração, “pilares da vida da Igreja e de sua unidade”.

Nenhum comentário: