Pe. Geraldo Martins
Os olhos do mundo se voltaram para Roma, no mês de outubro,
acompanhando, como há muito não acontecia, o Sínodo que discutiu a vocação da
família na Igreja e no mundo. Durante vinte dias, 270 bispos, arcebispos e
cardeais do mundo inteiro, chamados padres sinodais, reunidos com o papa,
debateram intensamente a realidade da família. Aos padres sinodais somou-se
mais de uma centena de peritos, convidados e observadores que também ajudaram a
colocar sobre a mesa as riquezas e as fraquezas desta instituição que sustenta
a sociedade.
A cobertura feita pela grande mídia, por um lado, nos ajudou
a tomar conhecimento do assunto discutido pelos padres sinodais. Por outro
lado, sua atenção quase obcecada por um único ponto – a participação dos
divorciados na comunhão eucarística e a união homoafetiva - nos dá uma visão
míope desta reunião convocada pelo papa que discutiu, ampla e profundamente,
inúmeras questões que envolvem a família. Daí a necessidade de buscarmos em
outras fontes e não ficarmos apenas com o que foi veiculado na grande imprensa.
É claro que o Sínodo não esgotou todos os assuntos ligados à
família e tampouco encontrou soluções para todas as suas dificuldades e
dúvidas. De acordo com o papa Francisco, o Sínodo ajudou a compreender a
importância da família e do matrimônio e deu “provas da vitalidade da Igreja
Católica, que não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as
mãos discutindo, animada e francamente, sobre a família”.
Ainda segundo o papa, o Sínodo serviu para abrandar os
corações que costumam “se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com
superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”,
além de ter sido ocasião para reafirmar que ”a Igreja é Igreja dos pobres em
espírito e dos pecadores à procura do perdão”.
É bonito e nos enche de esperança ouvir o papa dizer que “o
primeiro dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a
misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação
do Senhor (cf. Jo 12, 44-50)”.
Francisco nos leva a uma profunda reflexão quando afirma que
“os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o
espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor
de Deus e do seu perdão”. Com isso, ele não quer negar ou diminuir a
importância das normas, “mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos
trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas obras,
mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua Misericórdia”.
Um texto final foi produzido pelos padres sinodais que
servirá de base para o pronunciamento oficial do papa que deverá ser feito em
forma de documento. A expectativa é grande e, a julgar pelos dois documentos
que publicou (Alegria do Evangelho e
Laudato Si), além de seus conhecidos pronunciamentos, podemos esperar um documento
marcadamente pastoral, profundamente iluminador e corajosamente profético.
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