quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Família e evangelização

Pe. Geraldo Martins

Os olhos do mundo se voltaram para Roma, no mês de outubro, acompanhando, como há muito não acontecia, o Sínodo que discutiu a vocação da família na Igreja e no mundo. Durante vinte dias, 270 bispos, arcebispos e cardeais do mundo inteiro, chamados padres sinodais, reunidos com o papa, debateram intensamente a realidade da família. Aos padres sinodais somou-se mais de uma centena de peritos, convidados e observadores que também ajudaram a colocar sobre a mesa as riquezas e as fraquezas desta instituição que sustenta a sociedade.

A cobertura feita pela grande mídia, por um lado, nos ajudou a tomar conhecimento do assunto discutido pelos padres sinodais. Por outro lado, sua atenção quase obcecada por um único ponto – a participação dos divorciados na comunhão eucarística e a união homoafetiva - nos dá uma visão míope desta reunião convocada pelo papa que discutiu, ampla e profundamente, inúmeras questões que envolvem a família. Daí a necessidade de buscarmos em outras fontes e não ficarmos apenas com o que foi veiculado na grande imprensa.

É claro que o Sínodo não esgotou todos os assuntos ligados à família e tampouco encontrou soluções para todas as suas dificuldades e dúvidas. De acordo com o papa Francisco, o Sínodo ajudou a compreender a importância da família e do matrimônio e deu “provas da vitalidade da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as mãos discutindo, animada e francamente, sobre a família”.

Ainda segundo o papa, o Sínodo serviu para abrandar os corações que costumam “se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”, além de ter sido ocasião para reafirmar que ”a Igreja é Igreja dos pobres em espírito e dos pecadores à procura do perdão”.

É bonito e nos enche de esperança ouvir o papa dizer que “o primeiro dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor (cf. Jo 12, 44-50)”.

Francisco nos leva a uma profunda reflexão quando afirma que “os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão”. Com isso, ele não quer negar ou diminuir a importância das normas, “mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua Misericórdia”.

Um texto final foi produzido pelos padres sinodais que servirá de base para o pronunciamento oficial do papa que deverá ser feito em forma de documento. A expectativa é grande e, a julgar pelos dois documentos que publicou (Alegria do Evangelho e Laudato Si), além de seus conhecidos pronunciamentos, podemos esperar um documento marcadamente pastoral, profundamente iluminador e corajosamente profético.

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