quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Para vencer a crise

Pe. Geraldo Martins

A crise econômica e financeira mundial tem sido pauta diária dos noticiários, dos economistas, dos governos, do mundo político e mesmo de quem não entende de economia. Ela tem derrubado políticos, como os primeiros ministros da Grécia e da Itália, e tirado o sono de muita gente. Movimentos como “Ocupe wall street” e “Os Indignados” tomam corpo em todo o mundo. São um protesto contra esta situação insustentável, que só faz aumentar o sofrimento dos mais pobres.

No mês passado, o Pontifício Conselho Justiça e Paz, da Santa Sé, publicou um importante documento sobre esta crise, cujo fim ninguém arrisca a prever. No entendimento do Pontifício Conselho, o momento exige esforço de todas as Nações para superação desta situação, que tem múltiplas causas. Inspirado na encíclica Pacem in terris, do papa João XXII, propõe que seja constituída uma “Autoridade pública mundial” para “servir o bem comum”.

O documento faz uma breve análise da crise e a vê como fruto da “combinação de erros técnicos e de responsabilidades morais”. Aponta, pelo menos, três causas: o liberalismo econômico “sem regras e incontrolado”; a ideologia utilitarista, lembrando que, nem sempre, o útil individual, mesmo que legítimo, “favorece o bem comum” e a ideologia da tecnocracia.

Para o Pontifício Conselho, a crise não é apenas financeira, mas é também ética. “A crise revelou comportamentos de egoísmo, de avidez coletiva e de açambarcamento de bens em grande escala”, diz o texto. E acrescenta: “ninguém, conscientemente, pode aceitar o desenvolvimento de alguns países em desvantagem de outros”. Propõe, assim, o desenvolvimento de uma ética da solidariedade, “abandonando todas as formas de egoísmo avarento, abraçando a lógica do bem comum mundial, que transcende o mero interesse contingente e particular”.

Sobre a constituição de uma “Autoridade pública mundial”, também dita “transnacional”, o Pontifício Conselho reconhece que o processo para se chegar lá é complexo. Uma vez constituída, esta Autoridade, de alcance planetário, deverá se orientar pelo princípio da subsidiariedade, que “deve regulamentar as relações entre Estado e comunidades locais, entre instituições públicas e instituições privadas, sem excluir as monetárias e financeiras”.

A saída da crise passa, de acordo com o documento, entre outras coisas, pela reforma do sistema monetário, incluindo o seu controle. Aliás, o próprio G20, em 2009, admitia: “a crise econômica demonstra a importância de iniciar uma nova era da economia global fundada na responsabilidade” e sugeria uma “reforma da arquitetura global para enfrentar as exigências do século XXI”.

O documento do Vaticano conclui reafirmando a ideia da Autoridade transnacional, alertando que o que está em jogo é o bem comum da humanidade e o próprio futuro. “Só um espírito de concórdia, que supere divisões e conflitos, permitirá que a humanidade seja autenticamente uma única família, chegando a conceber um novo mundo com a constituição de uma Autoridade pública mundial, ao serviço do bem comum”.

Bem recebido pela crítica, o documento merece ser lido, debatido e divulgado. Com sólida fundamentação e transparente coragem, torna-se uma ótima contribuição para os que se perderam na busca de solução para a crise gerada pelo sistema capitalista, agora colocado em xeque.

E-mail do autor: martinsdias@gmail.com

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