sexta-feira, 28 de abril de 2017

AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO BRASIL

MENSAGEM DA CNBB

“Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho” (Jo 5,17)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida – SP, em sua 55ª Assembleia Geral Ordinária, se une aos trabalhadores e às trabalhadoras, da cidade e do campo, por ocasião do dia 1º de maio. Brota do nosso coração de pastores um grito de solidariedade em defesa de seus direitos, particularmente dos 13 milhões de desempregados.

O trabalho é fundamental para a dignidade da pessoa, constitui uma dimensão da existência humana sobre a terra. Pelo trabalho, a pessoa participa da obra da criação, contribui para a construção de uma sociedade justa, tornando-se, assim, semelhante a Deus que trabalha sempre. O trabalhador não é mercadoria, por isso, não pode ser coisificado. Ele é sujeito e tem direito à justa remuneração, que não se mede apenas pelo custo da força de trabalho, mas também pelo direito à qualidade de vida digna.

Ao longo da nossa história, as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras pela conquista de direitos contribuíram para a construção de uma nação com ideais republicanos e democráticos. O dia do trabalhador e da trabalhadora é celebrado, neste ano de 2017, em meio a um ataque sistemático e ostensivo aos direitos conquistados, precarizando as condições de vida, enfraquecendo o Estado e absolutizando o Mercado. Diante disso, dizemos não ao “conceito economicista da sociedade, que procura o lucro egoísta, fora dos parâmetros da justiça social” (Papa Francisco, Audiência Geral, 1º. de maio de 2013).

Nessa lógica perversa do mercado, os Poderes Executivo e Legislativo reduzem o dever do Estado de mediar a relação entre capital e trabalho, e de garantir a proteção social. Exemplos disso são os Projetos de Lei 4302/98 (Lei das Terceirizações) e 6787/16 (Reforma Trabalhista), bem como a Proposta de Emenda à Constituição 287/16 (Reforma da Previdência). É inaceitável que decisões de tamanha incidência na vida das pessoas e que retiram direitos já conquistados, sejam aprovadas no Congresso Nacional, sem um amplo diálogo com a sociedade.

Irmãos e irmãs, trabalhadores e trabalhadoras, diante da precarização, flexibilização das leis do trabalho e demais perdas oriundas das “reformas”, nossa palavra é de esperança e de fé: nenhum trabalhador sem direitos! Juntamente com a Terra e o Teto, o Trabalho é um direito sagrado, pelo qual vale a pena lutar (Cf. Papa Francisco, Discurso aos Movimentos Populares, 9 de julho de 2015).

Encorajamos a organização democrática e mobilizações pacíficas, em defesa da dignidade e dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras, com especial atenção aos mais pobres.

Por intercessão de São José Operário, invocamos a benção de Deus para cada trabalhador e trabalhadora e suas famílias.
Aparecida, 27 de abril de 2017.

Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Assembleia da CNBB assegura unidade e comunhão dos bispos do Brasil, afirma cardeal Sérgio da Rocha

Pe. Geraldo Martins

Na missa de abertura da 55ª Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na manhã desta quarta-feira, 26, no Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida (SP), o arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, Cardeal Sérgio da Rocha, destacou que a assembleia é garantida da unidade e da comunhão do episcopado brasileiro. “O compromisso de promover a unidade é dom de Deus. Nossos esforços pela unidade, justiça e paz, em favor do Brasil e do mundo, deve ser acompanhado da oração”, disse o cardeal.

Numa referência indireta ao momento de crise pelo qual passa o país, dom Sérgio, inspirado no evangelho proclamado na liturgia, lembrou que o cristão é convidado a se aproximar da luz que é o próprio Cristo. “Discípulo de Cristo, cristão, de verdade não tem medo que as suas obras sejam manifestadas, não se esconde por trás de esquemas que não condizem com a vida cristã; jamais se deixa corromper”, sublinhou.

O cardeal condenou a corrupção e exortou os cristãos a não ficarem indiferentes ao sofrimento dos pobres. “Nós condenamos durante a corrupção, mas não podemos tolerar e reproduzir atos aparentemente pequenos de infidelidade e desonestidade no dia a dia. Nós rejeitamos a perda de direitos dos pobres e pequenos nas iniciativas políticas, mas não podemos aceitar a falta de respeito à vida e à dignidade das pessoas no cotidiano. Nós repudiamos as violações a vida nascente, como o aborto, mas não podemos ficar indiferentes as violações sofridas, ao longo da vida, pelos pobres e fragilizados”, completou.

Já no plenário, que ocorre no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, ao declarar aberta a 55ª Assembleia, dom Sérgio destacou que a CNBB não se restringe a discutir a vida interna da Igreja, mas também a realidade do país. “O tema central desta assembleia é a Iniciação à vida cristã, buscando responder os desafios da evangelização e colocar em prática as Diretrizes Gerais da Ação da Igreja no Brasil, que nos convidam a ser casa da iniciação cristã”, ressaltou. “Nossa assembleia não se restringe à vida interna da Igreja, mas também à vida social do país”, completou.


A assembleia, a sétima a se realizar em Aparecida (SP), termina no dia 5 de maio. Ao longo de dez dias, os bispos do Brasil discutirão temas como Educação, ministério da Palavra, celebração da palavra. Serão emitidas notas sobre o momento atual do Brasil, 1º de maio. A assembleia fará memória, ainda, dez anos da Conferência do Episcopado Latino-americano e caribenho, ocorrida em 2007, no Santuário de Aparecida.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Instrução Ad resurgendum cum Christo a propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas da cremação

1. Para ressuscitar com Cristo, é necessário morrer com Cristo, isto é, “exilarmo-nos do corpo para irmos habitar junto do Senhor” (2 Cor 5, 8). Com a Instrução Piam et constantem, de 5 de Julho de 1963, o então chamado Santo Ofício, estabeleceu que “seja fielmente conservado o costume de enterrar os cadáveres dos fiéis”, acrescentando, ainda, que a cremação não é “em si mesma contrária à religião cristã”. Mais ainda, afirmava que não devem ser negados os sacramentos e as exéquias àqueles que pediram para ser cremados, na condição de que tal escolha não seja querida “como a negação dos dogmas cristãos, ou num espírito sectário, ou ainda, por ódio contra a religião católica e à Igreja”.[1]Esta mudança da disciplina eclesiástica foi consignada no Código de Direito Canônico (1983) e no Código dos Cânones da Igreja Oriental (1990).

Entretanto, a prática da cremação difundiu-se bastante em muitas Nações e, ao mesmo tempo, difundem-se, também, novas ideias contrastantes com a fé da Igreja. Depois de a seu tempo se ter ouvido a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos e numerosas Conferências Episcopais e Sinodais dos bispos das Igrejas Orientais, a Congregação para a Doutrina da Fé considerou oportuno publicar uma nova Instrução, a fim de repor as razões doutrinais e pastorais da preferência a dar à sepultura dos corpos e, ao mesmo tempo, dar normas sobre o que diz respeito à conservação das cinzas no caso da cremação.

2. A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da fé cristã, anunciada come parte fundamental do Mistério pascal desde as origens do cristianismo: “Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze” (1 Cor 15, 3-5).

Pela sua morte e ressurreição, Cristo libertou-nos do pecado e deu-nos uma vida nova: “como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivemos uma vida nova” (Rm 6, 4). Por outro lado, Cristo ressuscitado é princípio e fonte da nossa ressurreição futura: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram….; do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos serão restituídos à vida” (1 Cor 15, 20-22).

Se é verdade que Cristo nos ressuscitará “no último dia”, é também verdade que, de certa forma já ressuscitamos com Cristo. De fato, pelo Batismo, estamos imersos na morte e ressurreição de Cristo e sacramentalmente assimilados a Ele: “Sepultados com Ele no batismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos” (Col 2, 12). Unidos a Cristo pelo Batismo, participamos já, realmente, na vida de Cristo ressuscitado (cf. Ef 2, 6).

Graças a Cristo, a morte cristã tem um significado positivo. A liturgia da Igreja reza: “Para os que crêem em vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna”.[2]Na morte, o espírito separa-se do corpo, mas na ressurreição Deus torna a dar vida incorruptível ao nosso corpo transformado, reunindo-o, de novo, ao nosso espírito. Também nos nossos dias a Igreja é chamada a anunciar a fé na ressurreição: “A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: acreditando nisso somos o que professamos”.[3]

3. Seguindo a antiga tradição cristã, a Igreja recomenda insistentemente que os corpos dos defuntos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado.[4]

Ao lembrar a morte, sepultura e ressurreição do Senhor, mistério à luz do qual se manifesta o sentido cristão da morte,[5]a inumação é, antes de mais, a forma mais idônea para exprimir a fé e a esperança na ressurreição corporal.[6]

A Igreja, que como Mãe acompanhou o cristão durante a sua peregrinação terrena, oferece ao Pai, em Cristo, o filho da sua graça e entrega à terra os restos mortais na esperança de que ressuscitará para a glória.[7]

Enterrando os corpos dos fiéis defuntos, a Igreja confirma a fé na ressurreição da carne,[8]e deseja colocar em relevo a grande dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa da qual o corpo condivide a história.[9] Não pode, por isso, permitir comportamentos e ritos que envolvam concepções errôneas sobre a morte: seja o aniquilamento definitivo da pessoa; seja o momento da sua fusão com a Mãe natureza ou com o universo; seja como uma etapa no processo da reencarnação; seja ainda, como a libertação definitiva da “prisão” do corpo.

Por outro lado, a sepultura nos cemitérios ou noutros lugares sagrados responde adequadamente à piedade e ao respeito devido aos corpos dos fiéis defuntos, que, mediante o Batismo, se tornaram templo do Espírito Santo e dos quais, “como instrumentos e vasos, se serviu santamente o Espírito Santo para realizar tantas boas obras”.[10]

O justo Tobias é elogiado pelos méritos alcançados junto de Deus por ter enterrado os mortos,[11]e a Igreja considera a sepultura dos mortos como uma obra de misericórdia corporal.[12]

Ainda mais, a sepultura dos corpos dos fiéis defuntos nos cemitérios ou noutros lugares sagrados favorece a memória e a oração pelos defuntos da parte dos seus familiares e de toda a comunidade cristã, assim como a veneração dos mártires e dos santos.

Mediante a sepultura dos corpos nos cemitérios, nas igrejas ou em lugares específicos para tal, a tradição cristã conservou a comunhão entre os vivos e os mortos e opõe-se à tendência a esconder ou privatizar o acontecimento da morte e o significado que ela tem para os cristãos.

4. Onde por razões de tipo higiênico, econômico ou social se escolhe a cremação; escolha que não deve ser contrária à vontade explícita ou razoavelmente presumível do fiel defunto, a Igreja não vê razões doutrinais para impedir tal práxis; uma vez que a cremação do cadáver não toca o espírito e não impede à onipotência divina de ressuscitar o corpo. Por isso, tal fato, não implica uma razão objetiva que negue a doutrina cristã sobre a imortalidade da alma e da ressurreição dos corpos.[13]

A Igreja continua a preferir a sepultura dos corpos uma vez que assim se evidencia uma estima maior pelos defuntos; todavia, a cremação não é proibida, “a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”.[14]

Na ausência de motivações contrárias à doutrina cristã, a Igreja, depois da celebração das exéquias, acompanha a escolha da cremação seguindo as respectivas indicações litúrgicas e pastorais, evitando qualquer tipo de escândalo ou de indiferentismo religioso.

5. Quaisquer que sejam as motivações legítimas que levaram à escolha da cremação do cadáver, as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é, no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica.

Desde o início os cristãos desejaram que os seus defuntos fossem objeto de orações e de memória por parte da comunidade cristã. Os seus túmulos tornaram-se lugares de oração, de memória e de reflexão. Os fiéis defuntos fazem parte da Igreja, que crê na comunhão “dos que peregrinam na terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do céu: formam todos uma só Igreja”.[15]

A conservação das cinzas num lugar sagrado pode contribuir para que não se corra o risco de afastar os defuntos da oração e da recordação dos parentes e da comunidade cristã. Por outro lado, deste modo, se evita a possibilidade de esquecimento ou falta de respeito que podem acontecer, sobretudo depois de passar a primeira geração, ou então cair em práticas inconvenientes ou supersticiosas.

6. Pelos motivos mencionados, a conservação das cinzas em casa não é consentida. Em casos de circunstâncias gravosas e excepcionais, dependendo das condições culturais de caráter local, o Ordinário, de acordo com a Conferência Episcopal ou o Sínodo dos Bispos das Igrejas Orientais, poderá autorizar a conservação das cinzas em casa. As cinzas, no entanto, não podem ser dividias entre os vários núcleos familiares e deve ser sempre assegurado o respeito e as adequadas condições de conservação das mesmas

7. Para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista, não seja permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se, ainda a conservação das cinzas cremadas sob a forma de recordação comemorativa em peças de joalharia ou em outros objetos, tendo presente que para tal modo de proceder não podem ser adotadas razões de ordem higiênica, social ou econômica a motivar a escolha da cremação.

8. No caso do defunto ter claramente manifestado o desejo da cremação e a dispersão das mesmas na natureza por razões contrárias à fé cristã, devem ser negadas as exéquias, segundo o direito.[16]

O Sumo Pontífice Francisco, na Audiência concedida ao abaixo-assinado, Cardeal Prefeito, em 18 de Março de 2016, aprovou a presente Instrução, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação em 2 de Março de 2016, e ordenou a sua publicação.

Roma, Congregação para a Doutrina da Fé, 15 de Agosto de 2016, Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria.

Gerhard Card. Müller
Prefeito

+Luis F. Ladaria, S.I.
Arcebispo titular de Thibica
Secretário

[1] AAS 56 (1964), 822-823.
[2] Missal Romano, Prefácio dos Defuntos I.
[3] Tertuliano, De resurrectione carnis, 1,1: CCL 2, 921.
[4] Cf. CDC, can. 1176, § 3; can. 1205; CCIO, can. 876, § 3; can. 868.
[5] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1681.
[6] Cf. CDC, can. 1176, § 3; can. 1205; CCIO, can. 876, § 3; can. 868.
[7] Cf. 1 Cor 15,42-44; Catecismo da Igreja Católica, n. 1683.
[8] Cf. Santo Agostinho, De cura pro mortuis gerenda, 3, 5: CSEL 41, 628.
[9] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Constituição pastoral Gaudium et spes, n. 14.
[10] Cf. Santo Agostinho, De cura pro mortuis gerenda, 3, 5: CSEL 41, 627.
[11] Cf. Tb 2, 9; 12, 12.
[12] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2300.
[13] Cf. Suprema e Sagrada Congregação do Santo Ofício, Instrução Piam et constantem, de 5 de Julho de 1963: AAS 56 (1964), 822.
[14] CDC, can. 1176, §3; cf. CCIO, can. 876, §3.
[15] Catecismo da Igreja Católica, n. 962.

[16] CDC, can. 1184; CCIO, can. 876, § 3.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

MENSAGEM DA CNBB PARA AS ELEIÇÕES 2016

“Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Amós 5,24)



Neste ano de eleições municipais, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB dirige ao povo brasileiro uma mensagem de esperança, ânimo e coragem. Os cristãos católicos, de maneira especial, são chamados a dar a razão de sua esperança (cf. 1Pd 3,15) nesse tempo de profunda crise pela qual passa o Brasil.

Sonhamos e nos comprometemos com um país próspero, democrático, sem corrupção, socialmente igualitário, economicamente justo, ecologicamente sustentável, sem violência discriminação e mentiras; e com oportunidades iguais para todos. Só com participação cidadã de todos os brasileiros e brasileiras é possível a realização desse sonho. Esta participação democrática começa no município onde cada pessoa mora e constrói sua rede de relações. Se quisermos transformar o Brasil, comecemos por transformar os municípios. As eleições são um dos caminhos para atingirmos essa meta.

A política, do ponto de vista ético, “é o conjunto de ações pelas quais os homens buscam uma forma de convivência entre indivíduos, grupos, nações que ofereçam condições para a realização do bem comum”. Já do ponto de vista da organização, a política é o exercício do poder e o esforço por conquistá-lo1, a fim de que seja exercido na perspectiva do serviço.

Os cristãos leigos e leigas não podem “abdicar da participação na política” (Christifideles Laici, 42). A eles cabe, de maneira singular, a exigência do Evangelho de construir o bem comum na perspectiva do Reino de Deus. Contribui para isso a participação consciente no processo eleitoral, escolhendo e votando em candidatos honestos e competentes. Associando fé e vida, a cidadania não se esgota no direito-dever de votar, mas se dá também no acompanhamento do mandato dos eleitos.

As eleições municipais têm uma atração e uma força próprias pela proximidade dos candidatos com os eleitores. Se, por um lado, isso desperta mais interesse e facilita as relações, por outro, pode levar a práticas condenáveis como a compra e venda de votos, a divisão de famílias e da comunidade. Na política, é fundamental respeitar as diferenças e não fazer delas motivo para inimizades ou animosidades que desemboquem em violência de qualquer ordem.

Para escolher e votar bem é imprescindível conhecer, além dos programas dos partidos, os candidatos e sua proposta de trabalho, sabendo distinguir claramente as funções para as quais se candidatam. Dos prefeitos, no poder executivo, espera-se “conduta ética nas ações públicas, nos contratos assinados, nas relações com os demais agentes políticos e com os poderes econômicos”2. Dos legisladores, os vereadores, requer-se “uma ação correta de fiscalização e legislação que não passe por uma simples presença na bancada de sustentação ou de oposição ao executivo”3.

É fundamental considerar o passado do candidato, sua conduta moral e ética e, se já exerce algum cargo político, conhecer sua atuação na apresentação e votação de matérias e leis a favor do bem comum. A Lei da Ficha Limpa há de ser, neste caso, o instrumento iluminador do eleitor para barrar candidatos de ficha suja. 

Uma boa maneira de conhecer os candidatos e suas propostas é promover debates com os concorrentes. Em muitos casos cabe propor lhes a assinatura de cartas-compromisso em relação a alguma causa relevante para a comunidade como, por exemplo, a defesa do direito de crianças e adolescentes. Pode ser inovador e eficaz elaborar projetos de lei, com a ajuda de assessores, e solicitar a adesão de candidatos no sentido de aprovar os projetos de lei tanto para o executivo quanto para o legislativo.

É preciso estar atento aos custos das campanhas. O gasto exorbitante, além de afrontar os mais pobres, contradiz o compromisso com a sobriedade e a simplicidade que deveria ser assumido por candidatos e partidos. Cabe aos eleitores observar as fontes de arrecadação dos candidatos, bem como sua prestação de contas. A lei que proíbe o financiamento de campanha por empresas, aplicada pela primeira vez nessas eleições, é um dos passos que permitem devolver ao povo o protagonismo eleitoral, submetido antes ao poder econômico. Além disso, estanca uma das veias mais eficazes de corrupção, como atestam os escândalos noticiados pela imprensa. Da mesma forma, é preciso combater sistematicamente a vergonhosa prática de “Caixa 2”, tão comum nas campanhas eleitorais.

A compra e venda de votos e o uso da máquina administrativa nas campanhas constituem crime eleitoral que atenta contra a honra do eleitor e contra a cidadania. Exortamos os eleitores a fiscalizarem os candidatos e, constatando esse ato de corrupção, a denunciarem os envolvidos ao Ministério Público e à Justiça Eleitoral, conforme prevê a Lei 9840, uma conquista da mobilização popular há quase duas décadas.

A Igreja Católica não assume nenhuma candidatura, mas incentiva os cristãos leigos e leigas, que têm vocação para a militância político-partidária, a se lançarem candidatos. No discernimento dos melhores candidatos, tenha-se em conta seu compromisso com a vida, com a justiça, com a ética, com a transparência, com o fim da corrupção, além de seu testemunho na comunidade de fé. Promova-se a renovação de candidaturas, pondo fim ao carreirismo político. Por isso, exortamos as comunidades a aprofundarem seu conhecimento sobre a vida política de seu município e do país, fazendo sempre a opção por aqueles que se proponham a governar a partir dos pobres, não se rendendo à lógica da economia de mercado cujo centro é o lucro e não a pessoa. 

Após as eleições, é importante a comunidade se organizar para acompanhar os mandatos dos eleitos. Os cristãos leigos e leigas, inspirados na fé que vem do Evangelho, devem se preparar para assumir, de acordo com sua vocação, competência e capacitação, serviços nos Conselhos de participação popular, como o da Educação, Saúde, Criança e Adolescente, Juventude, Assistência Social etc. Devem, igualmente, acompanhar as reuniões das Câmaras Municipais onde se votam projetos e leis para o município. Estejam atentos à elaboração e implementação de políticas públicas que atendam especialmente às populações mais vulneráveis como crianças, jovens, idosos, migrantes, indígenas, quilombolas e os pobres. 

Confiamos que nossas comunidades saberão se organizar para tornar as eleições municipais ocasião de fortalecimento da democracia que deve ser cada vez mais participativa. Nosso horizonte seja sempre a construção do bem comum.  

Que Nossa Senhora Aparecida, Mãe e Padroeira dos brasileiros, nos acompanhe e auxilie no exercício de nossa cidadania a favor do Brasil e de nossos municípios, onde começa a democracia.

Aparecida - SP, 13 de abril de 2016

Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB


1. Cf. CNBB – Doc. 40 - Igreja Comunhão e Missão – n. 184.
2. CNBB – Doc. 91 Por uma reforma do estado com participação democrática, n. 40.
3. Idem.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Formação: direito dos cristãos leigos, dever da Igreja

Pe. Geraldo Martins

Nos encontros e assembleias pastorais realizados pela Igreja, um pedido recorrente é que se dê atenção à formação dos cristãos leigos e leigos. E faz todo sentido. Afinal, como evangelizar eficazmente sem uma preparação e uma capacitação adequadas, considerando as rápidas mudanças pelas quais passa a sociedade?! Os desafios hoje são inúmeros e dizem respeito às mais diversas áreas. Pensemos, por exemplo, na bioética, da política, na cultura, na comunicação, nos direitos humanos. Quanta mudança e quanta novidade!
A formação, direito dos cristãos leigos, deve ser continuada, permanente, porém, sem a pretensão de ter todas as respostas para tudo. Cabe à paróquia o dever e a responsabilidade de elaborar um plano de formação para seus agentes de pastoral, ainda que simples e modesto. Teologia, bíblia, moral, liturgia, catequese, comunicação, doutrina social da Igreja, missão são alguns dos conteúdos que devem constar nesse plano.
A participação dos agentes é fundamental, afinal, eles são os destinatários primeiros da formação. Lamentavelmente, muitas vezes, a formação é oferecida, mas os membros de nossas pastorais e serviços eclesiais simplesmente não participam. Alguns por razões que justificam, outros por desinteresse ou negligência. É uma pena que seja assim em muitos lugares.
Com o propósito de capacitar ainda mais nossos agentes e de favorecer a integração de nossas equipes e pastorais, o Conselho de Pastoral de nossa paróquia aprovou, no final do ano passado, um pequeno projeto de formação para 2016. Agrupamos nossas comunidades em duas áreas. A Área 1 é composta pelas comunidades de Passagem (aí incluídos os Setores Nossa Senhora da Conceição e Santa Rita), Vila São Vicente e Camargos. Já a Área 2 reúne as comunidades de Vargem (incluído Palmital) e Pombal.
Ao longo deste ano, teremos quatro encontros em cada uma destas Áreas nos meses de janeiro, abril, julho e setembro. Estudaremos, respectivamente, sobre a Campanha da Fraternidade, liturgia, catequese e bíblia. No mês de maio, a formação é para toda a paróquia quando reuniremos os agentes de todas as comunidades no Salão Paroquial. No mês de novembro, convocaremos novamente os agentes para um dia de retiro, afinal, é preciso cuidar de nossa espiritualidade para exercermos melhor a missão que Deus nos confiou.
Para cuidar de nosso plano de formação, foi constituída uma equipe que se responsabilizará por toda a logística. A ela caberá, dentre outras coisas, pensar o conteúdo, convidar o(a) assessor(a), preparar o local, convocar os agentes, prever o material necessário. Claro que essa formação paroquial não dispensa que cada equipe pastoral tenha seus encontros regulares e sua formação específica.

O sonho de um laicato maduro e consciente, cuja atuação vá além dos limites da Igreja e se dê também no mundo social, político e econômico (cf. EG 102) passa necessariamente pela formação. Recorda-nos o papa Francisco: “A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral” (EG 102). Deus nos ajude a enfrentar e vencer este desafio. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Juventude, nossa prioridade.

Pe. Geraldo Martins

Nossa paróquia começa 2016 com dois novos projetos que dão continuidade às decisões de nossa assembleia paroquial de pastoral, realizada no final de 2014. Aprovados pelo Conselho Paroquial de Pastoral (CPP) em reunião última reunião do ano passado (12 de dezembro), os projetos são simples e pretendem ajudar as lideranças da paróquia a crescer em seu compromisso como Evangelho. 

Apresento o primeiro deles que é voltado para a juventude, nossa prioridade para este ano a exemplo do que ocorreu com a família no ano passado. É claro que continuaremos a cuidar da família, fortalecendo a Pastoral Familiar e aperfeiçoando sua organização e atuação, bem como outras iniciativas voltadas para a família. Precisamos avançar muito ainda no cuidado com nossas famílias.

Nossa meta, em relação às juventudes, é apresentar Jesus Cristo para os jovens de modo que venham se apaixonar por ele. O primeiro passo, que já está sendo dado, é realizar uma pesquisa junto aos jovens para conhecer minimamente quem são, onde estão e o que desejam. Jovens de nossos dois grupos – JUM e UFC – vão a todas as comunidades ouvir os jovens. Será uma excelente oportunidade de fazer contatos com as juventudes de nossa paróquia e apresentar-lhes nosso desejo de tê-las conosco para atuar com vistas a construir o Reino de Deus.

O segundo passo será nos meses de fevereiro e março quando realizaremos um encontro com os jovens em cada uma das cinco comunidades da paróquia. Neste encontro apresentaremos nossa proposta de evangelização para a juventude inspirados na pesquisa que estamos realizando neste mês de janeiro. A ideia é construir junto com os próprios jovens uma proposta que lhes responda os anseios e desejos. Eles deverão ser protagonistas nesse processo. O importante é que eles assumam um compromisso com Jesus Cristo e, consequentemente, com a Igreja e com a transformação do mundo.

O terceiro passo se dará em maio quando acontecerá nosso primeiro encontro paroquial para a juventude. Nesta reunião apontaremos o caminho que queremos trilhar com nossas juventudes. Temos consciência de que há muitos jovens com vontade de atuar em nossa paróquia e de mostrar seu rosto para nossa comunidade. Ficaremos muito felizes se, ao longo desse processo, conseguirmos multiplicar nossos grupos de jovens, articulando-os entre si a fim de que mostrem sua força e capacidade de se fazer presente na Igreja e na sociedade.

Outra atividade importante está prevista para 31 de julho quando teremos, em nível arquidiocesano, o jubileu da juventude. Será uma grande concentração de jovens, em lugar a ser ainda definido, em sintonia com a Jornada Mundial da Juventude que se encerrará nesse dia na Polônia. O jubileu terá, ainda, a marca do Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo papa Francisco. 

A partir daí, outras atividades se seguirão como a Semana do Estudante e a festa de Nossa Senhora da Glória (agosto), o despertar vocacional (setembro) e o Dia Nacional da Juventude (outubro). Tudo isso exigirá de todos nós muito empenho, dedicação, organização, criatividade. Nossa meta é fazer os jovens sentirem o profundo amor que Jesus tem por eles. Levá-los a um encontro real, verdadeiro, transformador com Cristo é condição fundamental para que os jovens se coloquem no caminho da vida e da felicidade.

Embora o trabalho se dirija aos jovens, todos somos chamados a participar apoiando e incentivado a juventude a dar uma resposta positiva à nossa proposta. O engajamento de todas as equipes pastorais nesse projeto é condição imprescindível para seu êxito. Afinal, somos uma família e temos responsabilidades uns pelos outros. 

Anime-nos a palavra do poeta: “O rosto de Deus é jovem também/ E o sonho mais lindo é ele quem tem/ Deus não envelhece, tampouco morreu/ Continua vivo no povo que é seu/ Se a juventude viesse a faltar/ O rosto de Deus iria mudar” (Jorge Trevisol).